quarta-feira, novembro 15, 2017

O grande erro de Tite

Dono do Bordeaux, Malcom é hoje o segundo melhor ponta brasileiro na Europa. Destaque do atual campeão francês, Fabinho é peça chave no meio campo do Monaco. Fundamental no Watford, Richarlison é considerado uma das melhores contratações da última janela da Premier League. Regista do Napoli de Sarri, Jorginho tem características que nenhum outro pivote do elenco tem. E David Neres está voando com a camisa do Ajax.

Esses são alguns nomes que Tite podia ter testado nos amistosos contra Japão e Inglaterra, agora em novembro. Se não todos eles, pelo menos uns três (Jorginho, Fabinho e Malcom, eu diria). Jorginho já era. Entrou em campo pela Itália contra a Suécia - foi o melhor jogador da partida, diga-se - e não pode mais vestir a amarelinha. Quanto a Fabinho, abrir mão de um cara versátil como ele numa Copa - joga em alto nível na do Daniel Alves, na do Casemiro e na do Paulinho - me parece burrice. E Malcom, como eu disse, é hoje o segundo melhor ponta do Brasil na Europa, só fica atrás de Neymar.

Esse foi um erro de Tite. Fato. Perdeu a oportunidade de testar novos atletas. Aparentemente ele fechou o grupo antes da hora. Insistir em Taison, Giuliano, Diego Souza e etc e ignorar/desconsiderar nomes como os citados é algo no mínimo questionável. No entanto, esse não foi e nem é o maior erro do treinador da Seleção. O maior erro do treinador da Seleção, o grande erro de Tite, não passa pela convocação geral, e sim pelo XI inicial, pela formação do chamado time titular.

Particularmente Ederson seria meu goleiro, e não Alisson. E, obviamente, Thiago Silva seria meu zagueiro, e não Miranda, não só porque Thiago Silva é mais zagueiro do que Miranda, mas também para aproveitar o entrosamento de PSG com Marquinhos. Dito isso, o verdadeiro vacilo de Tite está mais para a frente, na meia esquerda. Sim, me refiro a uma tecla que venho batendo no Twitter há mais de um ano: Coutinho precisa jogar na do Renato Augusto.



Coutinho precisa jogar na do Renato Augusto por vários motivos. Um deles é que, com Coutinho na do Renato Augusto, o meio campo fica mais criativo, pois na fase ofensiva a contribuição de Coutinho é infinitamente maior que a de Renato Augusto. Coutinho é mais dinâmico, mais associativo, tem mais passe, mais drible, mais arremate, mais aceleração, mais visão, mais tudo. Além disso, com Coutinho na do Renato Augusto, Neymar não precisa cair tanto por dentro para armar as jogadas, como aconteceu nesta terça, contra a Inglaterra (veja aqui o mapa de passes do 11tegen11). Com Coutinho na do Renato Augusto, na meia esquerda do 4-3-3, o principal atacante do Brasil não fica sobrecarregado e pode se dedicar mais à conclusão das jogadas (aliás, Tite está repetindo um erro que Felipão cometeu em 2014: é tudo no Neymar).

Outro detalhe: não é apenas o rendimento coletivo da equipe que sobe com Coutinho na do Renato Augusto, mas também o rendimento individual do próprio Coutinho, que, destro, tem na finalização de fora da área a partir da esquerda um de seus pontos fortes, algo que praticamente desaparece quando ele é escalado a partir da direita. Como costumo dizer, há quem chame Coutinho a partir da beirada direita de "ponta construtor", de "meia aberto". Já eu chamo de desperdício.

"Coutinho não tem o poder de marcação de Renato Augusto", alguns dirão. Pode até ser. Mas no fim das contas, botando tudo na balança, há mais prós do que contras nessa troca. Muito mais. Sem falar que, com essa troca, abre-se uma vaga na ponta direita, que pode ser ocupada por Willian ou por um canhoto como Douglas Costa ou Malcom. E ainda tem outro detalhe: com Coutinho na do Renato Augusto uma eventual variação para o 4-2-3-1 fica mais viável e eficiente, e sem precisar recorrer ao banco de reservas.

Enfim. Você que me segue no Twitter sabe que eu canto essa pedra há bastante tempo. Chego até a me tornar, eu sei, repetitivo e chato, de tanto que insisto nisso. Mas quando a coisa é óbvia e está na nossa cara, é difícil ficar calado. De qualquer forma, a boa notícia é que ainda há tempo para Tite cair na realidade e se dar conta de que, para enfrentar seleções da elite europeia, por exemplo, é preciso mais. O Brasil pode ser campeão na Rússia com Renato Augusto interior-esquerdo e Coutinho a partir da direita? Pode. Claro. Copa é Copa. São sete jogos. Tiro curto. Mas com Coutinho na do Renato Augusto, a probabilidade disso acontecer cresce.

segunda-feira, setembro 04, 2017

Top 20 elencos Europa 2017/18

1 Real Madrid


2 Paris Saint-Germain


3 Manchester City


4 Bayern


5 Juventus


6 Manchester United


7 Barcelona


8 Chelsea


9 Borussia Dortmund


10 Liverpool


11 Tottenham


12 Arsenal


13 Atlético


14 Napoli


15 Milan


16 Monaco


17 Roma


18 Inter


19 Everton


20 Sevilla


PS: Os esquemas táticos das pranchetas acima, as ordens de titularidade e as distribuições dos jogadores naturalmente não devem estar 100% corretas.

quinta-feira, agosto 17, 2017

Precisamos falar sobre Messi

Times que controlam o jogo com a bola geralmente atuam com um pivote e dois interiores. Há exceções, claro, mas em regra times que valorizam a posse se estruturam assim, com um primeiro volante centralizado e dois meias no meio campo - o setor mais importante de uma equipe que pretende ter a bola. Não é coincidência. Pode reparar. Geralmente times mais reativos jogam com dupla de volantes (4-4-2 em linha/4-2-3-1), enquanto times mais propositivos jogam com a trinca formada pelo pivote, pelo interior-direito e pelo interior-esquerdo (4-3-3/4-1-4-1).

O exemplo recente mais clássico é o Barça de Pep, que tinha em Busquets (pivote), Xavi (interior) e Iniesta (interior) o centro do seu universo. Messi fazia a diferença no ataque, na ponta direita, e depois como falso nove, entretanto o centro de tudo estava, naturalmente, no meio campo, com movimentação, aproximação e troca de passes curtos (sem movimentação, aproximação e troca de passes curtos não se valoriza a posse da bola). O próprio Barcelona de Luis Enrique, mais para a frente, na temporada 2014/15, seguia o mesmo panorama, com Busquets, Rakitic e Iniesta no meio campo, mais o trio MSN. É verdade que com Messi, Suárez e Neymar o time ficou muito mais vertical, em função das características e do entrosamento do seu tridente ofensivo. Porém a meiuca com um pivote e dois interiores estava lá, não tão dominadora como nos tempos de Guardiola, até pela ausência de Xavi, mas estava lá. Já na temporada passada, esse desenho começou a mudar.

Em 2014/15, quando o Barcelona ganhou tudo, com a MSN encantando e entrando para a história, Messi era o ponta direita do time e Neymar o ponta esquerda, de modo que o meio campo era composto por um pivote e dois interiores. A partir da temporada passada, a última de Luis Enrique no clube, no entanto, não sei se por iniciativa própria ou ordem do treinador, Messi abandonou de vez a ponta direita, o que forçou a equipe a se reestruturar taticamente. Pois, uma vez que Messi abandonou a ponta direita, tornou-se impossível a manutenção do 4-3-3, da meiuca com a trinca formada por um pivote e dois interiores. Gênio que é, Messi continuou desequilibrando mais por dentro, fazendo praticamente um gol e dando uma assistência por jogo. Essa mudança no posicionamento do camisa 10, contudo, acabou com o icônico meio campo do Barcelona.

Já escrevi sobre isso, inclusive. Nesse texto aqui, publicado em março, com quatro imagens, tentei mostrar por que essa variação tática era ruim para o time, por que essa mudança no posicionamento de Messi era maléfica sob o ponto de vista da coletividade. Mudança que, na minha visão, só foi feita e está sendo mantida por Valverde por um simples motivo: para que Messi não precise fechar o lado quando o adversário tiver a bola. Só que essa mudança gera um efeito colateral negativo, que é o enfraquecimento da faixa central, do centro de tudo. Em outras palavras, o "estilo Barça", baseado no seu meio campo com um pivote e dois interiores, tem sido sacrificado para que Messi tenha liberdade total. A pergunta é: vale a pena? Vale a pena sacrificar o "DNA Barça" para que Messi trabalhe menos na fase defensiva?

Enfim. Enquanto não voltar a jogar no 4-3-3 com Messi na ponta direita, ou a partir da ponta direita, o Barcelona vai sofrer e sangrar durante as transições defensiva e ofensiva, como vem acontecendo desde a temporada passada (e, por favor, não venha me dizer que Messi não tem mais condições físicas para cumprir esse papel porque isso é mentira). Agora, se a ideia dos dirigentes do Barcelona é chutar o "DNA Barça" para escanteio, eles estão no caminho certo, e as contratações de Valverde e Paulinho indicam isso.

domingo, agosto 13, 2017

O cara certo na hora errada

Desde a temporada passada o Barcelona se estrutura no 4-4-2 em linha na fase defensiva, basicamente para que Messi não tenha que fechar o lado do campo e possa permanecer mais pela faixa central. Nesse caso Busquets e Iniesta formam a dupla de volantes por dentro e Rakitic e Deulofeu (Neymar na temporada passada) fecham as beiradas, enquanto Messi e Suárez ficam no ataque. O problema é que Iniesta não é "volante" e Rakitic não é "winger" (nem Denis Suárez, André Gomes ou Rafinha), e no fim das contas tanto as transições defensivas quanto ofensivas são prejudicadas por essa variação tática, algo implementado por Luis Enrique (veja mais aqui) e aparentemente mantido por Valverde (exceto pelo 3-4-3 na fase ofensiva).

Se Coutinho chegar agora no Barcelona, você acha que esse desenho será alterado? Você acha que Valverde irá mexer no time para encaixá-lo? Irá fazer com que Messi passe a fechar o lado direito do campo na fase defensiva para que Coutinho possa jogar onde ele tanto quer, como interior? Eu acredito que não. Se ele chegar agora, provavelmente fará o que faz Deulofeu (e o que fez Neymar na temporada passada), que é fechar o lado esquerdo da linha de quatro. Ou fará o que faz Iniesta, que é se colocar como segundo volante ao lado de Busquets nessa linha de quatro. Ou o que faz Rakitic, que é fechar o lado direito do campo. Em outras palavras, taticamente não é uma boa para Coutinho trocar o Liverpool pelo Barcelona neste momento, pois essas três opções são ruins para ele.

No Liverpool, em contrapartida, com a chegada de Salah, Coutinho não precisa mais fechar o lado como acontecia na temporada passada. Hoje o time de Klopp tem Salah e Mané absolutos nas pontas, o que por fim permite a Coutinho jogar onde ele realmente quer jogar, onde ele naturalmente rende mais, onde ele faz mais diferença coletivamente, que é como interior e não como ponta (no caso, interior-esquerdo em um 4-3-3/4-1-4-1, a posição que melhor aproveita as suas virtudes; confira aqui). Ou seja, justo agora que Coutinho tem na temporada 2017/18 a chance de mostrar ao mundo que ele é interior e não ponta, que ele é um gestor e criador de faixa central e não um winger de um contra um, ele vai trocar de clube? Justo quando está prestes a fazer com a camisa do Liverpool sua melhor temporada na carreira, na sua verdadeira posição, com um baita treinador no comando e uma Champions League pela frente (sem falar que ele é ídolo e o melhor jogador da equipe desde a saída de Suárez), Coutinho vai trocar de clube? Justo pelo Barça, que atualmente vive um caos tático, administrativo e institucional? Justo agora, a um ano da Copa do Mundo?

Não sei o que você acha, mas eu tenho claro que fazer essa troca hoje, neste exato momento, não é uma boa para Coutinho. Financeiramente deve ser um bom negócio, e de fato morar em Barcelona deve ser mais fácil do que morar em Liverpool, pela questão do clima, da língua, etc. Aliás, Coutinho já morou em Barcelona, jogou emprestado meia temporada no Espanyol em 2012 e conhece a cidade. No entanto, esportivamente falando, agora não é a hora ideal para trocar o Liverpool pelo Barça, pois o risco dessa mudança atrasar sua evolução é bastante real. Não sei o que você acha, tampouco o que o próprio Coutinho pensa, mas eu tenho claro que a melhor coisa que ele pode fazer, esportivamente falando, é ter paciência. É ficar mais uma temporada no LFC e ir para o desejado FCB depois da Copa 2018, para aí sim assumir de vez o lugar de Iniesta no XI (eu canto essa pedra desde 2015, inclusive; veja aqui), de preferência em um 4-3-3 com Messi na ponta direita, sem essa maléfica variação para o 4-4-2 em linha.

quarta-feira, julho 26, 2017

Bom negócio para todos

Quando um negócio é bom para todo mundo geralmente acaba acontecendo. Óbvio. Ninguém entra numa negociação para sair perdendo. Se um dos lados acredita que o negócio não é bom para ele, esse lado se levanta da mesa e o negócio não é fechado. Não é tão simples assim, mas em regra é assim que funciona, pois o princípio básico de uma negociação é este: uma troca onde todas as partes envolvidas saem ganhando.

No caso da maior saga desta janela de transferências, todas as partes saem ganhando. A provável ida de Neymar para o Paris Saint-Germain é boa para todo mundo. Primeiro, é boa para o Barcelona porque o atleta demonstra ter dúvidas sobre sua continuidade no clube espanhol, e não é interessante para nenhum clube ter um atleta indeciso e insatisfeito. Claro. Neymar é hoje um jogador insubstituível. Atualmente não há um ponta-esquerda no mundo que faça o que ele faz. Seu talento é indiscutível e seu destino é a Bola de Ouro. O que torna essa negociação boa para o Barcelona, no entanto, é o seu valor: € 222 milhões. Com essa grana, não necessariamente nesta janela, o Barça poderia contratar, por exemplo, Verratti (24 anos) e Dembélé (20 anos), e ainda pagar os salários deles por duas temporadas. Ou Coutinho (25 anos) e Dembélé. Um cara para jogar como interior e outro para assumir a vaga de Neymar (no caso, o craque francês do Dortmund). Não sei você, mas eu "trocaria" Neymar por Verratti (ou Coutinho) + Dembélé sem pensar duas vezes (ainda mais considerando - e isso é muito importante - a vontade de Neymar de sair).

E para o PSG, seria um bom negócio? Vale a pena pagar a multa de € 222 milhões para ter Neymar? Num primeiro momento, eu diria que não. Na minha avaliação Neymar (25 anos) vale hoje uns €150m, talvez um pouco mais do que isso. Mas se o PSG tem a grana para pagar (sem se complicar com o fair play financeiro), ótimo para o PSG, pois o time francês asseguraria o segundo maior talento do futebol mundial, com uma projeção de evolução gigantesca pela frente. Neymar seria a peça que falta para o PSG entrar na Champions League como um dos três favoritos ao título. A obsessão do PSG é a UCL, e com Neymar sem dúvida esse objetivo ficaria mais palpável - apesar de não haver garantias de título no esporte, em especial no futebol.

E para Neymar, seria um bom negócio? Sim. Não só financeiramente. Que o dinheiro pesa, sabemos que pesa. Contudo, grana à parte, esportivamente falando, sim, seria um bom negócio para Neymar. Primeiro porque o PSG está estabelecido entre os sete grandes clubes da Europa. É verdade que não tem a história de outros grandes do continente, porém história é passado e o que interessa aqui é o presente (e o futuro). Por teimosia ou burrice, por mais que muitas pessoas não compreendam isto, o fato é que hoje o PSG pertence à elite composta por Real Madrid, Barcelona, Bayern, Juventus, Manchester City, etc. Isso baseado na tradição? Não. Isso baseado no trabalho que vem sendo feito nos últimos anos e, principalmente, baseado na qualidade do elenco. Nesse quesito, não de agora, o PSG está na prateleira de cima. E com Neymar, o patamar do elenco subiria ainda mais. Em outras palavras, o PSG dá a Neymar (e a todos os seus jogadores) todas as condições para conquistar a cobiçada Champions League.

Outro ponto positivo para Neymar nessa negociação seria a questão do protagonismo. Como diz um tweet que viralizou esses dias, o Barcelona oferece a Neymar a oportunidade de jogar com Messi, enquanto o PSG oferece a Neymar a oportunidade de ser Messi. Neymar tem "apenas" 25 anos, tem muito chão pela frente. É compreensível, todavia, que ele queira mais protagonismo neste momento da carreira. É compreensível e legítimo que ele não queira esperar Messi baixar o nível para ele conseguir começar a ser o dono do time. Isso vai levar mais uns três anos. No PSG ele seria o dono do time desde o dia 1. E, como sabemos, em regra ganha a Bola de Ouro o protagonista da equipe campeã da Champions League. Aliás, o que disse Piqué ontem na coletiva é uma meia bobagem. Ele disse que na França só se pode ganhar a Bola de Ouro se a UCL for conquistada. Verdade. Porém na prática isso se aplica a todas as ligas nacionais, já que o peso do título da UCL é o que faz, de longe, a diferença na premiação da Bola de Ouro.

Outro ponto positivo para Neymar nessa negociação seria a quantidade de brasileiros que ele encontraria em Paris. Você pode concordar com ele ou não, mas está evidente que ter brasileiros no elenco é algo que pesa para Neymar, e hoje o PSG está cheio de compatriotas (Thiago Silva, Marquinhos, Thiago Motta, Lucas Moura e, claro, o "irmão" Daniel Alves). Ou seja, no fim das contas, se você colocar todos os fatores na balança e analisar por todos os lados, vai perceber que nessa negociação todas as partes envolvidas saem ganhando. Ganha o Barcelona (desde que saiba o que fazer com os €222m), ganha o PSG e ganha Neymar. Por essas e outras, a negociação deve acabar se concretizando.

sábado, maio 27, 2017

Os reforços que o Chelsea precisa

O XI do campeão da Premier League 2016/17 todos nós sabemos de cor e salteado: Courtois; Azpilicueta, David Luiz e Cahill; Moses, Kanté, Matic e Alonso; Pedro, Diego Costa e Hazard. (Willian até foi o titular na primeira metade da temporada, mas depois Pedro conquistou a vaga na bola. É verdade que houve o episódio do falecimento da mãe do jogador brasileiro entre uma coisa e outra, e isso o abalou bastante, porém, no fim das contas, o ponta espanhol ganhou a posição.) Isso tudo, claro, distribuído no 3-4-3.

Desde a mudança para o 3-4-3, por sinal, logo após aquela derrota por 3 a 0 para o Arsenal, no Emirates, na 6ª rodada, o Chelsea fez 32 jogos na Premier League, e os números impressionam: 27 vitórias, 2 empates, 3 derrotas, 75 gols marcados, 24 gols sofridos, 18 clean sheets. Impressionam também a importância e a influência do trabalho de Conte nesta temporada. Seu 3-4-3, em ideia e execução, merece um capítulo à parte no livro da história da tática no futebol. Recomendo, aliás, a análise feita por Eduardo Cecconi em seu blog sobre o 3-4-3 do Conte (veja aqui).

Devido ao sucesso na temporada, é evidente que na próxima essa estrutura será mantida. Portanto, na hora de reforçar o elenco, a movimentação nesta janela de transferências deve ser baseada no 3-4-3 e no seu funcionamento. Hoje, este é o elenco do Chelsea (Fàbregas também pode jogar na linha dos volantes e Pedro também faz a reserva de Hazard):



Em relação ao XI inicial, creio que a prioridade é trazer alguém para jogar ao lado de Kanté. A temporada de Matic foi muito boa, sem dúvida, contudo, para dar um passo à frente e fazer bonito na Champions League 2017/18, é preciso outra peça para formar dupla com Kanté (Fàbregas não é esse cara). A opção ideal seria Verratti (Verratti seria a opção ideal para vários times, na verdade). A notícia, entretanto, é que ele seguirá no PSG. Outras alternativas que passam pela minha mente são Nainggolan, Vidal, Keïta (Leipzig)... Só não entra na minha cabeça, apesar das especulações, a possibilidade desse cara ser Bakayoko. Não é de hoje que se fala em Bakayoko no Chelsea, mas, na minha visão, não faz sentido, uma vez que, para o Chelsea dar o salto de qualidade necessário para fazer bonito na UCL, Kanté precisa de um volante mais criativo ao seu lado.

A segunda peça na lista de prioridades em relação ao XI inicial, acredito eu, seria para ocupar o lugar de Pedro/Willian. Embora Pedro tenha recuperado seu futebol, e apesar de suas características preencherem os quesitos para triunfar no modelo de Conte, para subir de patamar a equipe precisa de um ponta-direita melhor. Traoré pode ser esse jogador? Talvez. Emprestado ao Ajax, o burquino de 21 anos pode agregar mais agressividade à posição. Canhoto, ele pode adicionar mais dribles e gols ao jogo do Chelsea que Pedro e Willian. Sem falar que ele também seria opção para jogar como centroavante.

Para encerrar as possíveis chegadas para o XI titular, se Diego Costa sair, tenho minhas dúvidas sobre se Batshuayi assume a camisa 9. Se sim, é um problema a menos (Batshuayi titular e Traoré reserva). Se não, alguém deve chegar. Quem? Fala-se em Lukaku. Mas Belotti e Aubameyang me parecem encaixar melhor no estilo de Conte. Não sei. Vamos ver. Isso, claro, se Diego Costa sair (para a China).

De qualquer forma, para subir um degrau na próxima temporada, o Chelsea precisa dessas duas ou três peças para o time titular, e de algumas outras para compor o plantel. Com a saída de Terry, por exemplo, outro zagueiro deve pintar (provavelmente o dinamarquês Christensen, 21 anos, emprestado ao Mönchengladbach). Baba Rahman, 22, também pode voltar do empréstimo ao Schalke para ser o reserva de Alonso. Enfim. Seja como for, o fato é que o campeão inglês precisa de uns poucos porém bons reforços para fazer frente aos gigantes da Europa (e para defender o título da Premier League).

quinta-feira, maio 25, 2017

Beleza é fundamental?

Existem basicamente dois estilos de jogo. Um valoriza a posse de bola e a troca de passes e o outro prioriza a negação dos espaços e as transições rápidas. Não há um certo nem um errado, pois ambos têm o mesmo objetivo: vencer. Ganha-se das duas maneiras e perde-se das duas maneiras. O ideal, na verdade, seria dominar os dois modelos, ter um time capaz de executar (bem) as duas ideias. Mas isso é para poucos. São raros os treinadores e principalmente elencos capazes de fazer isso. Raríssimos. O fato, todavia, é: não há certo nem errado.

No mata-mata ou nos pontos corridos, você pode ser campeão das duas formas: jogando um futebol à la Guardiola ou praticando um futebol à la Mourinho. Um futebol de pressão, posse e passe ou um futebol de defesa baixa e contra ataque. Os dois caminhos podem levar ao troféu. Os dois são eficientes. Talvez um um pouco mais aqui, o outro um pouco mais ali, mas no fim das contas, ambos são eficientes (claro, desde que bem executados). A questão é: qual é o mais agradável? Porque, além de ser uma competição, o futebol é, mais do que nunca, entretenimento. Na era da globalização, com jogos transmitidos ao vivo em alta qualidade para os quatro cantos do mundo (em especial os grandes torneios da Europa), mais do que nunca, futebol é entretenimento. Logo, sob o ponto de vista do espectador/torcedor, qual é o mais prazeroso de se assistir? O "estilo Mourinho" ou o "estilo Guardiola"? E mais: sob o ponto de vista do atleta, qual é o mais prazeroso de se jogar?

O conceito de beleza é bastante relativo. O que é bonito para mim pode não ser para você e vice-versa. Eu sei. Dito isso, particularmente prefiro o estilo de pressão, posse e passe, pois o time fica mais tempo com a bola no pé e é com a bola no pé que as coisas acontecem. Evidente que se o time fica com a bola mas não consegue avançar terreno, não consegue criar chances de gol, o jogo se torna feio (e ineficiente). Mas nesse caso a ideia é mal executada, e a comparação deve ser feita entre modelos bem executados. E quando as duas ideias são bem executadas, particularmente me agrada mais o "estilo Sarri" do que o "estilo Ranieri". E como grande produto de entretenimento global que é o futebol, acredito que o "estilo Sampaoli" coloque mais pessoas em frente à TV do que o "estilo Simeone". Ou me equivoco ao pensar assim? Pois, sob o ponto de vista do espectador/torcedor, custo a crer que há mais pessoas que prefiram ver, no longo prazo, uma equipe que fica mais tempo sem a bola do que com ela. E, principalmente, sob o ponto de vista do atleta, custo a crer que há quem prefira jogar mais tempo sem a bola do que com ela.

Enfim. Não há certo nem errado. E cada caso é um caso. Só acho que um clube do tamanho do Manchester United, por exemplo, uma multinacional gigantesca com consumidores por todo o planeta, deveria ter um time capaz de envolver o adversário com a bola, e não um time que conquista uma Liga Europa com 33% de posse na final, tendo como principal arma a saída longa para o "camisa 10" Fellaini ganhar em cima, diante de uma equipe que possui uma média de idade de 22 anos. Ainda mais quando se tem um elenco tão caro quanto o dos Red Devils. Enfim. O estilo de jogo de Mourinho e suas estratégias - que fique claro - são mais do que legítimos. Isso é óbvio. Só acho pouco para o Manchester United. E isso não é tão óbvio.

sexta-feira, maio 05, 2017

Dois nomes para o Barcelona

Luis Enrique matou o lado direito do Barcelona nesta temporada, e a razão vai além da saída de Daniel Alves. Mesmo sem o lateral-direito brasileiro, o treinador espanhol deveria ter criado mecanismos que gerassem amplitude e profundidade pela direita, mas ele não foi capaz disso (esses mapas de passes aqui ajudam a revelar o problema).

Dito isso, de fato o Barcelona precisa contratar um lateral-direito. Apesar de ter feito boas partidas, Sergi Roberto não é o cara para ocupar essa posição. Não é a dele. E Aleix Vidal, quando começou a engrenar e ganhar a confiança de Luis Enrique, se machucou, praticamente perdeu a temporada e virou uma incógnita para a seguinte. Ou seja, é preciso contratar. E a alternativa mais indicada é Bellerín (22 anos), jogador nascido em Barcelona e produto da cantera azulgrana. Sua situação no Arsenal não é das melhores e, embora seu preço seja salgado, o clube catalão deve tentá-lo na janela de verão.

O outro nome é Verratti (24 anos). É fácil indicá-lo, aliás, pois se trata de um craque que seria titular em todos os times do planeta, de olhos fechados. Não precisa ser nenhum gênio para perceber que o italiano é a contratação ideal para o Barcelona (e para tantas outras equipes). Além de agregar um poder de marcação que nenhum meio-campista do elenco do Barça possui, Verratti pode jogar nas três posições da meiuca. Naturalmente joga como interior, jogou a vida toda assim no PSG, mas também pode fazer o pivote quando Busquets estiver lesionado, suspenso ou poupado. Uma das carências que ficou escancarada nesta temporada, inclusive, é a reserva de Busquets.

Poder de marcação e versatilidade tática à parte, Verratti agregaria, claro, qualidade à fase ofensiva do jogo, com sua movimentação, intensidade, dinamismo, controle, criatividade, visão e passe. Com ele no gramado o time teria a pausa necessária mesmo quando Iniesta é desfalque (quando Iniesta foi desfalque nesta temporada, por sinal, o meio campo culé desapareceu). Imaginando o retorno do 4-3-3 para a próxima temporada, o meio teria, no caso, Busquets de pivote e Verratti e Iniesta de interiores. Rakitic? No banco. Ou em outro clube. Na verdade, seria uma boa vendê-lo para fazer caixa, assim como Arda.

Enfim. Está meio evidente que Bellerín e Verratti são os dois nomes para o Barcelona na janela do meio do ano. No entanto não vai ser fácil tirá-los do Arsenal e do PSG. Porém, não impossível, uma vez que a vontade do jogador (quase) sempre prevalece, e ao que parece ambos estariam a fim de jogar no Barça de Messi, Suárez e Neymar.

sábado, março 25, 2017

Top 5 elencos do mundo

Três jogadores por posição. Embora a lista da Copa seja composta de 23 jogadores, optei por três por posição para ampliar o leque. Ainda assim, certamente alguns nomes ficaram de fora.

Os 33 atletas de cada seleção a seguir não necessariamente refletem as escolhas de seus treinadores, tampouco o esquema tático, a distribuição das peças e a ordem de titularidade. De qualquer forma, as cinco pranchetas abaixo servem como referência para comparar os principais elencos do futebol mundial no momento. Na minha visão, eis a ordem:

1. França



2. Brasil



3. Espanha



4. Alemanha



5. Argentina



PS: Entre parênteses, a idade do jogador.

quinta-feira, março 02, 2017

A variação tática de Luis Enrique

No último domingo, dia 26 de fevereiro, o Barcelona visitou o Atlético de Madrid pela 24ª rodada da Liga, e nele Luis Enrique adotou uma variação entre o 4-4-2 em linha (sem a bola, como mostra a imagem logo abaixo) e o 3-4-3 com um losango no meio campo (com a bola).



Diante do time de Simeone, Sergi Roberto, o então lateral-direito na fase defensiva, se incorporava ao meio campo na fase ofensiva, como interior-direito, deixando a zaga para o trio Piqué, Umtiti e Mathieu, enquanto o canhoto Rafinha pela direita e o destro Neymar pela esquerda geravam amplitude (e Suárez profundidade, na referência).



Dessa maneira Messi atua como o típico enganche daqueles times argentinos que jogavam no 4-4-2 em losango, com liberdade total para buscar a bola na altura do pivote e ver o jogo de frente se assim interpretar necessário. Dessa maneira, no entanto, o camisa 10 cai pouco pelo flanco direito, lugar de onde costumava partir em diagonal driblando os adversários e finalizando com curva por fora no canto oposto do goleiro, "à la Robben".

Três dias depois, nesta quarta-feira, o Barcelona recebeu o Sporting pela 25ª rodada da Liga, e Luis Enrique repetiu a variação 4-4-2/3-4-3. Só que dessa vez quem se incorporou ao meio campo na fase ofensiva não foi o lateral-direito, e sim um dos zagueiros: no caso, Busquets, que formou a dupla do miolo com Umtiti na fase defensiva (imagem abaixo).



Com a bola, a defesa ficava a cargo de Mascherano, Umtiti e Alba, ao passo que Busquets se deslocava uns metros à frente para preencher a posição que é seu habitat natural, de pivote, compondo assim o quarteto do meio, com Rakitic e Denis interiores e Messi enganche (Rafinha e Neymar na amplitude e Suárez na referência).



Em matéria de resultado, não dá para falar que não deu certo. Vitória por 2 a 1 sobre o Atlético no Calderón e goleada por 6 a 1 sobre o Sporting no Camp Nou. Essa variação, todavia, não me parece a mais adequada ao Barcelona, pois a transição entre as duas fases do jogo se torna lenta, sem falar que algumas peças não são as mais indicadas para executar determinadas tarefas (Rafinha não é winger, doble pivote com Denis e Rakitic - ou André Gomes, Iniesta -  perde força na marcação, etc). Em outras palavras, essa variação, no fim das contas, prejudica os aspectos individual e coletivo da equipe, por mais que a intenção do treinador obviamente não seja essa.

De qualquer forma, o fato é que ontem Luis Enrique informou ao público que seu contrato com o Barcelona não será renovado, e o gigante catalão terá outro técnico na próxima temporada. Minha aposta? Jorge Sampaoli, claro. Pois, noves fora seu excelente currículo, além de futebolisticamente ser a cara do Barça (pressão, posse, passe, domínio, superioridade numérica, ocasiões de gol), Sampaoli é argentino, assim como o gênio e dono do time.

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Como encaixar Diego, Conca e Berrío?

Mancuello tem jogado a partir da direita neste início de temporada. No 4-2-3-1 de Zé Ricardo, Rômulo e Arão são os volantes e Diego atua como "10", atrás de Guerrero, com Mancuello e Everton nas beiradas. Pelo fato de ser canhoto (e de ser mais meia do que ponta), o argentino tende a transitar pela faixa central com naturalidade, onde soma esforços criativos com Diego, deixando o flanco para o lateral Pará. Sem dúvida a ideia é boa e pelo visto está dando certo. Porém, fica a pergunta: onde entra Berrío? E Conca?

Bom. Antes de qualquer coisa é preciso questionar essa obsessão que nós temos em querer encaixar todos os reforços no mesmo XI. Como diz o próprio nome, apenas onze jogadores começam a partida, e inevitavelmente alguns atletas com estirpe de titular acabam ficando de fora. Por essas e outras é fundamental saber rodar o elenco. Dito isso, no entanto, é preciso sim ter em mente o chamado "XI ideal", a chamada "força máxima", para quando se tem todos os jogadores à disposição - embora isso seja meio raro no futebol brasileiro. Por isso fica a pergunta: e Conca? E Berrío?

Uma coisa me parece evidente: Berrío é extremo-direito e chegou para ser titular. Seu lugar, portanto, em tese, é a ponta direita, lugar preenchido hoje por Mancuello. Ou seja, se a ideia do treinador é seguir com o 4-2-3-1, de duas, uma: ou ele mantém o canhoto Mancuello à direita e joga Berrío para o lado esquerdo, ou ele faz o contrário (põe Berrío na direita e Mancuello na esquerda). O xis da questão aí passa pelas características dos envolvidos. Uma coisa é jogar com o "meia" canhoto criativo à direita e outra é jogar com o típico "winger", destro, mais físico. Com um a tendência é a circulação pela faixa central visando a elaboração das jogadas. Com o outro, a tendência é a chegada forte, velocidade, explosão. Surge então outra pergunta: é melhor ter o "meia" canhoto Mancuello a partir da direita ou o "winger" destro Berrío?



Talvez a saída seja mesmo passar Mancuello para a esquerda, para deixar Berrío na sua praia (a extrema direita). Embora seja mais fácil para o canhoto argentino transitar pela faixa central a partir da direita, ele tem mais condições de atuar a partir da esquerda do que Berrío (ainda que isso possa alterar o funcionamento do time). E isso serve para o outro meia argentino canhoto do elenco: Conca. Com Diego e Berrío no mesmo XI, no 4-2-3-1, o que sobra para Conca? A beirada esquerda (e para Mancuello, a reserva). No fim das contas, independente do esquema tático, o fato é que está se desenhando uma briga entre Conca e Mancuello por uma vaga. E para o Flamengo isso é ótimo, pois revela a qualidade do plantel. Resta saber como Zé Ricardo vai administrar isso.

O cenário, então, é este: um 4-2-3-1 com Rômulo e Arão volantes, Diego atrás de Guerrero, Berrío na direita e, na esquerda, Conca ou Mancuello (ou Everton). Convenhamos, um senhor XI, que tem tudo para dar certo e brigar por títulos graúdos. Ainda penso, entretanto, que há outra alternativa que poderia deixar o time um pouco mais equilibrado, uma vez que a ideia de ter Mancuello fechando o lado do campo na fase defensiva não me parece a mais indicada. Na verdade, mais Conca do que Mancuello. Mancuello nem tanto. Mais Conca mesmo. Confesso que tenho dificuldade de imaginá-lo fechando o lado do campo na fase defensiva. Posso estar errado, mas tenho a impressão de que estouraria no lateral com frequência. Qual a alternativa, então? Para mim, mudar a estrutura tática. Passar para um 3-4-2-1, com Berrío na ala direita e os meias Conca e Diego próximos ao centroavante (prancheta abaixo). Dessa forma, Conca seria menos exigido sem a bola, de modo que o equilírio do time seria mantido.



Enfim. De qualquer maneira, acho que Zé Ricardo faz bem em tentar encaixar seus principais jogadores no esquema que é adotado desde o ano passado (4-2-3-1). Trata-se da manutenção de uma ideia que deu/está dando certo - e que tende a dar mais certo com Mancuello do que com Conca. Só espero que ele esteja aberto a novas ideias e variações, como, por exemplo, um 3-4-2-1 (ou 3-4-3, se preferir) onde o veterano Conca - especialmente ele - se sinta mais confortável, sem que maiores sacrifícios sejam necessários.

PS: Para entender melhor o funcionamento do 3-4-3, leia aqui a análise feita por Eduardo Cecconi em seu blog. Vale muito a pena.