quinta-feira, julho 31, 2014

Uma saída para Muricy Ramalho

Alexandre Pato é craque. Talvez não seja o jogador que eu e muitas pessoas pensávamos que fosse ser quando surgiu, mas é craque. Seu problema, que durante os anos de Itália se mostrou físico, hoje em dia está bem evidente: é emocional, é comportamental. Contudo não podemos colocar tudo na conta da cabeça dele e ignorar outras questões, como a parte tática, por exemplo.

Pato apresenta uma certa limitação tática. Não é ponta, nem centroavante. Fica no meio do caminho. Quero dizer, até vejo nele um centroavante. Vejo nele muito mais um camisa 9 do que um segundo atacante ou um ponteiro. Entretanto não há como negar que ele não sabe jogar de costas para o gol, uma das funções do centroavante quando o time avança em bloco e mantém a posse no campo ofensivo. Em outas palavras, rende mais em esquemas com dois atacantes (4-4-2, 3-5-2) do que com três (4-3-3, 4-2-3-1).

Na vitória por 2 a 1 sobre o Bragantino, nesta quarta-feira, pela Copa do Brasil, em Ribeirão Preto, Muricy Ramalho trocou o habitual 4-2-3-1 pelo 3-5-2, um velho conhecido seu dos tempos do tricampeonato brasileiro pelo próprio São Paulo. Não sei exatamente o que levou o treinador tricolor a fazer essa escolha, mas sei que essa alternativa pode ser mais pertinente do que aparenta, para o restante da temporada. Insisto: não sei se foi algo casual ou se Muricy pretende adotar essa estrutura daqui pra frente. Só sei que – veja você, logo eu que abomino esquemas com três zagueiros – essa estrutura de ontem à noite pode encaixar de vez a equipe na temporada.

Esse na prancheta foi o time que enfrentou o Bragantino. Rodrigo Caio entre Paulo Miranda e Rafael Toloi, Maicon e Souza volantes, Ganso "enganche", Douglas e Alvaro Pereira nas alas, além dos atacantes Ademilson e Pato. O desempenho coletivo não foi brilhante. Longe disso. Porém quase todas as vezes em que os camisas 10 e 11 se aproximavam, coisa boa saía dali. Vários lances – ou pelo menos alguns, não vamos exagerar – envolvendo Ganso e Pato diretamente, na base da movimentação, da inteligência e da qualidade técnica, levaram perigo ao adversário (por pouco não pintou um golaço no primeiro tempo, numa jogada entre eles e Rodrigo Caio, numa escapada do zagueiro/volante ao ataque). Embora não tenha feito uma partida primorosa individualmente, de fato Pato se encontrou melhor nessa formação.



Mudando um pouco de pato pra ganso, o que mais me chamou a atenção nesse jogo foi a participação de Ganso. Em vários momentos ele voltou à linha dos volantes, eventualmente até atrás de Maicon e Souza, para buscar o jogo e dar início às jogadas. Em vários momentos Ganso apareceu à frente da zaga pedindo a bola no pé, erguendo a cabeça e clareando a saída com passes curtos, médios e até longos, como num lançamento à la Gerson na primeira etapa, justamente para Pato, que não conseguiu dominar a criança.

Quem me acompanha pelo Twitter sabe que, por mim, Ganso jogaria mais recuado. Na minha visão Ganso não é esse camisa 10 que tem que entrar na área que Muricy tanto fala (publiquei um post sobre isso em fevereiro, aliás). Para mim esse discurso do treinador é dar murro em ponta de faca. Se dependesse de mim, independente do esquema tático, Ganso formaria a dupla de volantes com Souza, e Maicon iria para o banco. Não creio que ele viraria o melhor volante do mundo da noite para o dia. Não é isso. Esse mudança exigiria tempo para Ganso se adequar à posição. A cada dia que passa, a cada jogo que vejo, no entanto, tenho mais certeza de que o meio-campista do São Paulo precisa ser no mínimo testado mais atrás.

E é aí que entra minha animação com a possibilidade do 3-5-2 (quem diria, hein). Porque, apesar de eu discordar com veemência dessa afirmação tão corriqueira quando levanto essa hipótese, muitos dizem que com Ganso volante o time ficaria sem poder de marcação (repito: abomino essa tese, para mim Ganso faz tudo que Maicon faz, só que melhor). Para compensar essa suposta fragilidade na marcação, portanto, nada mais conveniente do que um esquema com três zagueiros, sendo que um deles, Rodrigo Caio, pode trabalhar como híbrido. Mal comparando, pode ser o Rafa Marquez do São Paulo, no sentido da variação tática. Dependendo do desenrolar da partida, Caio pode se descolar da linha de três da zaga e se somar ao setor do meio campo. Há um porém nesse caso: isso só aconteceria com eficiência se o time estivesse bem treinado e entrosado, e para isso seria preciso treinamento e repetição, convicção e sequência.

Dessa maneira, a posição que foi de Ganso diante do Bragantino, seria ocupada por Kaká. Um 3-5-2 (veja aqui) com Toloi, Rodrigo Caio e Antonio Carlos na zaga, Souza e Ganso volantes, e Kaká à frente deles, atrás da dupla composta por Pato e Kardec (lembre-se: Pato rende mais formando uma dupla do que num esquema com centroavante e pontas). Dessa forma, Ademilson iria para o banco. Ademilson que, veja você, é escalado mais pelo que faz sem a bola do que pelo que faz com ela. Uma senhora na inversão de valores! Prioriza-se jogadores que fazem o trabalho sujo, sem a bola (marcar lateral virou um parto, é o novo bicho de sete cabeças do futebol brasileiro), em detrimento de atletas que sabem o que fazer com ela no pé. Enfim. Como disse, não sei se Muricy pretende utilizar esse 3-5-2 daqui pra frente. Só sei que é uma baita saída, uma opção pra lá de interessante – desde que Ganso jogue mais recuado, no lugar de Maicon, e Pato compunha o ataque, no lugar de Ademilson, ao lado de Kardec (ou Luis Fabiano).

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