quinta-feira, julho 26, 2007

Relaxa e joga

Edu chegou ao consultório de dermatologia ao meio-dia. Tinha uma consulta marcada às 12h15.

Na sala de espera, a tevê estava ligada. Chegou um pouco adiantado, bem na hora do pontapé inicial do jogo entre Brasil e EUA. Finalíssima do Pan do Rio.

Na sala, alguns jornais e revistas de agosto, setembro de 2004, 2005. Não teve dúvida: ficou de olhos atentos à tevê. Mesmo se tivesse revistas e jornais de agosto, setembro de 2007, 2008, ele ficaria de olho na tevê, afinal, era a final.

Ele e os outros que aguardavam o atendimento médico não desgrudavam a lupa da tevê. Ele e outros barbados, babando, apreciando a beleza que aparecia na televisão. Não necessariamente a beleza física das jogadoras, mas a beleza das jogadas produzidas pelas brasileiras. Coisa linda, de encher os olhos.

Incrível. Sala de espera lotada. Todos torciam. As secretárias, os e as que esperavam para serem atendidos. Parecia final de Copa do Mundo. Masculino. Todos(as) torcendo, roendo as unhas. A bola passava rente à trave e todo mundo se levantava da cadeira ao som coletivo de um "UUHHHH!".

O jogo estava tão convidativo que Edu desejou que o médico atrasasse. Atrasasse uns 30 minutos. Assim, ele poderia ver todo o primeiro tempo.

Esse era o desejo de todos. Que o médico atrasasse, para que ninguém perdesse nenhum minuto do primeiro tempo.

A certa altura do jogo, um barbado ao lado de Edu, barbardo de verdade, barba cumprida e branca, disse: "A Seleção das mulheres joga mais que a dos homens. Cada golaço!".

Edu foi obrigado a concordar. Era pura verdade. Contra fatos não há argumentos. Marta joga mais que Júlio Baptista. Daniela Alves mais que Daniel Alves. Formiga joga mais que Fernando. Maicon mais que Maicon...

O relógio passava, a hora da consulta se aproximava, e Edu se angustiava, pensando "Está chegando a hora da consulta. Droga!"

Lás pelos 15 minutos, 12h15, horário da consulta, o narrador grita: "Pênalti!!!"

"Eduardo!!!", grita a secretária.

"Puta que pariu, logo agora!?", pensou Edu em voz alta. Ia sair o primeiro gol verde-amarelo, e Edu tinha de ir de encontro ao médico. O velho de barba branca deu um sorriso lamentando.

A consulta foi rápida. Poucos minutos. Algumas apalpadas e um antiinflamatório receitado.

Edu saiu apressado. Na saída, ainda perguntou ao velho da barba branca: "Saiu o gol!?". "Sim, sim, saiu!". Brasil 1 a 0.

Animado, Edu foi correndo para casa. O golzão 1.0 mais parecia um golfzão 1.6. Mesmo voando baixo pelas avenidas, não chegou a tempo de ver o segundo gol. Quando estava entrando no elevador, ainda escutou a televisãozinha do porteiro gritando "GOOOOOOL". "De quem? De quem?", perguntou Edu, imagindo que teria sido o segundo da Seleção. "Do Brasil!", confirmou o porteiro.

2 a 0, e Edu não tinha visto nenhum dos gols. Não se importou. Estava feliz.

Ao abrir a porta do apartamento, Dona Gilmara, a doméstica, Dona Flávia, a mãe, e João Gabriel, o irmão, todos juntos, vibrando com os olhos vidrados no televisor.

No segundo tempo, uma chuva de gols. Além do show. Ao apito final, 5 a 0, e festa no apê de Eduardo. E em sua cidade, ao som de fogos de artifício. Mais festa do que na Copa América. Festa também no Maraca, templo sagrado do futebol.

E embora alguns dirigentes antiquados, machistas e egoístas não sabem, futebol é coisa pra mulher!

Mulher como Marta, que tem muito mais bola que Júlio Baptista, por exemplo. Cria muito mais. Que camisa 10! Marta, simplesmente, relaxa e joga. E como joga!

5 comentários:

Anônimo disse...

E como jogaa!!! A camisa 10 cabe muito bem em Marta... seria o meio-campo ideal para carpegiani, e para todos os corinthianos...hehehe.

Fernando Amaral disse...

Golaço.

Renan Turra Silva disse...

mandou bem

Marta melhor que Júlio Baptista...com certeza, guardando as proporções é evidente. Mas o que não impede ninguém de dizer que ela é melhor que Kaká né, se é eu não sei, mas guardando as proporções, como deves ter feito, talvez.

Agora, o Júlio Baptista pelo que fez pelo Brasil na Copa América NA MINHA OPINIÃO deve continuar sendo chamado, nem que para banco.

Sidarta Martins disse...

Futebol com gols é outra coisa! Bem melhor.

Anônimo disse...

Cara belo texto Carlão. E tem mais Marta poderia tirar ferias, mas opitou em defender a seleção isso sim é amor a camisa não igual a alguns craques da selelção masculina!Ela realmente é 10 a Pelé das mulheres!Abraço