sexta-feira, junho 12, 2015

Uma grande briga de foice no escuro

"No mínimo vinte jogos." Foi o que disse Juan Carlos Osorio, sobre o tempo adequado para se avaliar o trabalho de um treinador. No mínimo vinte jogos.

Imagino que esse número cause espanto, já que treinador no Brasil fica, em média, cerca de quinze jogos no cargo. Isso mesmo. O treinador no Brasil fica em média apenas quinze jogos no cargo. É sério. Veja aqui e se envergonhe. Ou seja, pela lógica do respeitado Osorio – com a qual eu concordo e levanto bandeira há anos, por sinal –, a maioria dos treinadores no Brasil é demitida antes mesmo de poder ter seu trabalho avaliado com um mínimo de justiça. Em outras palavras, a cabeça acaba rolando antes mesmo de o treinador ter a oportunidade de se defender, digamos assim. Logo, o que acontece é uma covardia. E todos nós temos parcela nisso. Nós torcedores, nós jornalistas, nós dirigentes.

Já escrevi sobre isto aqui no blog, inclusive. Essa média, constrangedora, é tão baixa (de longe a mais baixa entre as principais ligas do mundo) porque nossos cartolas não entendem nada de futebol, porque não entendem nada de campo e bola. E essa falta de conhecimento (teórico mesmo) resulta na falta de convicção, que por sua vez resulta em decisões equivocadas. A mais comum delas? A demissão precoce do treinador – um hábito extremamente prejudicial ao futebol jogado dentro de campo, no frigir dos ovos. Em muitos dos casos, com menos de três meses de trabalho. Ou até dois. Ou um. Não duvide. Eles se superam.

E por que isso acontece? Por que essas decisões equivocadas são tomadas ano após ano, rodada após rodada, desde que nos entendemos por gente? Por que o Brasil lidera de longe esse embaraçoso porém revelador ranking de país que mais demite treinador? Porque nossos dirigentes dão ouvidos às cornetas sopradas pela imprensa e, consequentemente, pela torcida. Quando o time não consegue o resultado imediato positivo, a corneta, na maioria das vezes sem fundamento, começa na imprensa, se espalha pela torcida, ecoa pelos corredores do clube, e o dirigente acaba caindo no canto da sereia.

Se entendesse minimamente de futebol, o presidente do clube seria convicto e simplesmente ignoraria as cornetadas da imprensa e da torcida. Largaria um "conversem com minha mão" e ponto final. Mas como não entende e não tem convicção, cede à pressão externa. O problema é que grande parte da imprensa esportiva brasileira também não entende nada de futebol. Boa parte também não tem conhecimento (teórico mesmo) de campo e bola. O torcedor, coitado, nem se fala, tem menos ainda, ao ponto de embarcar na onda da imprensa sem sequer questioná-la. Enfim. No fim das contas, o cartola opta por demitir o treinador com menos de três, dois meses de trabalho, porque leva a sério análises de pessoas que não entendem de futebol. E isso ajuda a explicar por que o futebol brasileiro é uma grande briga de foice no escuro. E por que a frase de Osorio pode ter causado espanto em muita gente. "Como assim vinte jogos no mínimo?! Perdeu três, tá fora! Não adianta! É cultural!"

Pois é. Sete a um não foi pouco. Ficou de graça.

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