Odeio o imediatismo que predomina nas análises futebolísticas. Em questão de dias, ou até mesmo de um singular jogo, endeusa-se ou crucifica-se fulano ou beltrano com uma facilidade desgraçada.
Sou fã do trabalho de Pep Guardiola. Para mim era e continua sendo o melhor treinador do mundo. Não é porque seu time foi humilhado pelo de Carlo Ancelotti, na semifinal da Champions League, que vou mudar de opinião (parece óbvio, mas às vezes a obviedade precisa ser dita e repetida). Seria no mínimo irresponsável e covarde da minha parte, "só" porque o Bayern foi massacrado pelo Real Madrid na partida desta terça-feira, pensar "ih, Pep não é mais o mesmo". Seria dum imediatismo barato da minha parte, e se tem uma coisa que abomino no futebol, dentre tantas outras, é a análise imediatista (que na verdade nem merece ser chamada de análise).
Dito isso, evidente que o trabalho de Guardiola não está imune a críticas. Não é porque o considero o melhor técnico do mundo que vou concordar com tudo o que ele faz ou propõe (embora eu concorde com quase tudo).
O confronto contra o Madrid - não só o 4 a 0 da Allianz Arena, mas também o 1 a 0 do Santiago Bernabéu - me fez refletir e questionar a convicção de Pep. Porque, como você e eu sabemos, independente do adversário, do estádio e do placar de momento, sua equipe joga do mesmo jeito: troca de passes curtos no campo ofensivo, valorizando a posse da bola, à espera da infiltração na área e do espaço para o arremate. Era assim com o Barcelona, e é assim com o Bayern. E por que deu certo com o Barcelona e não deu com o Bayern, Carlão? Primeiro, vale lembrar que naquele Barcelona tinha um tal de Messi. E segundo, discordo que não está dando certo no Bayern. Ora! O time foi campeão alemão com o pé nas costas, com não sei quantas rodadas de antecedência, quebrando recordes e mais recordes. Mas e a eliminação para o Real Madrid, Carlão? Bom, antes de qualquer coisa, é necessário reconhecer o mérito merengue. Dentro da proposta de jogo de cada um, a equipe espanhola foi superior, e vale lembrar que para um ganhar o outro precisa perder (ah, sem falar que o Madrid tem um tal de Cristiano Ronaldo).
Contudo, em cima do chamado estilo de jogo - e é aí que entra minha crítica -, me parece que falta um pouco de flexibilidade a Guardiola, me parece que sua convicção pode, eventualmente, atrapalhá-lo. Pois ao priorizar piamente a manutenção da posse de bola no campo ofensivo, seu time acaba, não diria abrindo mão totalmente, mas deixando meio de lado, uma arma letal, ainda mais quando se tem Robben e Ribéry no time: o contra ataque. Não estou dizendo que os times de Guardiola são proibidos de contra atacar. Não é isso, por favor. Porém essa obsessão pela posse de bola, em certos momentos, pode tomar o lugar de alternativas tão efetivas quanto ou até mais. Repito: não estou dizendo que o Bayern 2013/14 estava proibido de contra atacar. No entanto esse artifício, me parece, só é utilizado quando o adversário tem um escanteio ou uma bola parada qualquer a seu favor (claro, um escanteio ou uma bola parada que não resulta em nada e que escancara os espaços ao time de Pep). Talvez, dependendo do contexto, quando perde a bola, não necessária e obrigatoriamente o Bayern precisa marcar por pressão para retomá-la lá em cima. Dependendo do contexto, quando perde a bola, talvez seja pertinente recuar, marcar por zona lá atrás para retomá-la e contra golpear, ainda mais, como disse, quando se tem duas flechas como Robben e Ribéry no gramado.
Enfim, há várias estratégias de jogo, há várias maneiras de se jogar futebol, de se armar uma equipe. E sem dúvida o chamado Tiki-Taka é a forma que mais me agrada. Entretanto, mesmo o Bayern de Guardiola, talvez não precise atuar somente dessa forma. Talvez uma eventual mudança de estratégia, num jogo aqui, noutro ali (ou até mesmo numa parte dum jogo aqui, noutra parte dum jogo ali), seja benéfica à equipe, até porque, quando você joga sempre da mesma maneira, faça chuva ou faça sol, como mandante ou visitante, você se torna previsível.
Feita minha crítica, ainda assim, só para deixar claro, como odeio análises imediatistas (também conhecidas como papo de torcedor de boteco), Pep continua sendo, por uma série de motivos, o melhor treinador da atualidade, na minha visão.
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