quinta-feira, agosto 17, 2017

Precisamos falar sobre Messi

Times que controlam o jogo com a bola geralmente atuam com um pivote e dois interiores. Há exceções, claro, mas em regra times que valorizam a posse se estruturam assim, com um primeiro volante centralizado e dois meias no meio campo - o setor mais importante de uma equipe que pretende ter a bola. Não é coincidência. Pode reparar. Geralmente times mais reativos jogam com dupla de volantes (4-4-2 em linha/4-2-3-1), enquanto times mais propositivos jogam com a trinca formada pelo pivote, pelo interior-direito e pelo interior-esquerdo (4-3-3/4-1-4-1).

O exemplo recente mais clássico é o Barça de Pep, que tinha em Busquets (pivote), Xavi (interior) e Iniesta (interior) o centro do seu universo. Messi fazia a diferença no ataque, na ponta direita, e depois como falso nove, entretanto o centro de tudo estava, naturalmente, no meio campo, com movimentação, aproximação e troca de passes curtos (sem movimentação, aproximação e troca de passes curtos não se valoriza a posse da bola). O próprio Barcelona de Luis Enrique, mais para a frente, na temporada 2014/15, seguia o mesmo panorama, com Busquets, Rakitic e Iniesta no meio campo, mais o trio MSN. É verdade que com Messi, Suárez e Neymar o time ficou muito mais vertical, em função das características e do entrosamento do seu tridente ofensivo. Porém a meiuca com um pivote e dois interiores estava lá, não tão dominadora como nos tempos de Guardiola, até pela ausência de Xavi, mas estava lá. Já na temporada passada, esse desenho começou a mudar.

Em 2014/15, quando o Barcelona ganhou tudo, com a MSN encantando e entrando para a história, Messi era o ponta direita do time e Neymar o ponta esquerda, de modo que o meio campo era composto por um pivote e dois interiores. A partir da temporada passada, a última de Luis Enrique no clube, no entanto, não sei se por iniciativa própria ou ordem do treinador, Messi abandonou de vez a ponta direita, o que forçou a equipe a se reestruturar taticamente. Pois, uma vez que Messi abandonou a ponta direita, tornou-se impossível a manutenção do 4-3-3, da meiuca com a trinca formada por um pivote e dois interiores. Gênio que é, Messi continuou desequilibrando mais por dentro, fazendo praticamente um gol e dando uma assistência por jogo. Essa mudança no posicionamento do camisa 10, contudo, acabou com o icônico meio campo do Barcelona.

Já escrevi sobre isso, inclusive. Nesse texto aqui, publicado em março, com quatro imagens, tentei mostrar por que essa variação tática era ruim para o time, por que essa mudança no posicionamento de Messi era maléfica sob o ponto de vista da coletividade. Mudança que, na minha visão, só foi feita e está sendo mantida por Valverde por um simples motivo: para que Messi não precise fechar o lado quando o adversário tiver a bola. Só que essa mudança gera um efeito colateral negativo, que é o enfraquecimento da faixa central, do centro de tudo. Em outras palavras, o "estilo Barça", baseado no seu meio campo com um pivote e dois interiores, tem sido sacrificado para que Messi tenha liberdade total. A pergunta é: vale a pena? Vale a pena sacrificar o "DNA Barça" para que Messi trabalhe menos na fase defensiva?

Enfim. Enquanto não voltar a jogar no 4-3-3 com Messi na ponta direita, ou a partir da ponta direita, o Barcelona vai sofrer e sangrar durante as transições defensiva e ofensiva, como vem acontecendo desde a temporada passada (e, por favor, não venha me dizer que Messi não tem mais condições físicas para cumprir esse papel porque isso é mentira). Agora, se a ideia dos dirigentes do Barcelona é chutar o "DNA Barça" para escanteio, eles estão no caminho certo, e as contratações de Valverde e Paulinho indicam isso.

domingo, agosto 13, 2017

O cara certo na hora errada

Desde a temporada passada o Barcelona se estrutura no 4-4-2 em linha na fase defensiva, basicamente para que Messi não tenha que fechar o lado do campo e possa permanecer mais pela faixa central. Nesse caso Busquets e Iniesta formam a dupla de volantes por dentro e Rakitic e Deulofeu (Neymar na temporada passada) fecham as beiradas, enquanto Messi e Suárez ficam no ataque. O problema é que Iniesta não é "volante" e Rakitic não é "winger" (nem Denis Suárez, André Gomes ou Rafinha), e no fim das contas tanto as transições defensivas quanto ofensivas são prejudicadas por essa variação tática, algo implementado por Luis Enrique (veja mais aqui) e aparentemente mantido por Valverde (exceto pelo 3-4-3 na fase ofensiva).

Se Coutinho chegar agora no Barcelona, você acha que esse desenho será alterado? Você acha que Valverde irá mexer no time para encaixá-lo? Irá fazer com que Messi passe a fechar o lado direito do campo na fase defensiva para que Coutinho possa jogar onde ele tanto quer, como interior? Eu acredito que não. Se ele chegar agora, provavelmente fará o que faz Deulofeu (e o que fez Neymar na temporada passada), que é fechar o lado esquerdo da linha de quatro. Ou fará o que faz Iniesta, que é se colocar como segundo volante ao lado de Busquets nessa linha de quatro. Ou o que faz Rakitic, que é fechar o lado direito do campo. Em outras palavras, taticamente não é uma boa para Coutinho trocar o Liverpool pelo Barcelona neste momento, pois essas três opções são ruins para ele.

No Liverpool, em contrapartida, com a chegada de Salah, Coutinho não precisa mais fechar o lado como acontecia na temporada passada. Hoje o time de Klopp tem Salah e Mané absolutos nas pontas, o que por fim permite a Coutinho jogar onde ele realmente quer jogar, onde ele naturalmente rende mais, onde ele faz mais diferença coletivamente, que é como interior e não como ponta (no caso, interior-esquerdo em um 4-3-3/4-1-4-1, a posição que melhor aproveita as suas virtudes; confira aqui). Ou seja, justo agora que Coutinho tem na temporada 2017/18 a chance de mostrar ao mundo que ele é interior e não ponta, que ele é um gestor e criador de faixa central e não um winger de um contra um, ele vai trocar de clube? Justo quando está prestes a fazer com a camisa do Liverpool sua melhor temporada na carreira, na sua verdadeira posição, com um baita treinador no comando e uma Champions League pela frente (sem falar que ele é ídolo e o melhor jogador da equipe desde a saída de Suárez), Coutinho vai trocar de clube? Justo pelo Barça, que atualmente vive um caos tático, administrativo e institucional? Justo agora, a um ano da Copa do Mundo?

Não sei o que você acha, mas eu tenho claro que fazer essa troca hoje, neste exato momento, não é uma boa para Coutinho. Financeiramente deve ser um bom negócio, e de fato morar em Barcelona deve ser mais fácil do que morar em Liverpool, pela questão do clima, da língua, etc. Aliás, Coutinho já morou em Barcelona, jogou emprestado meia temporada no Espanyol em 2012 e conhece a cidade. No entanto, esportivamente falando, agora não é a hora ideal para trocar o Liverpool pelo Barça, pois o risco dessa mudança atrasar sua evolução é bastante real. Não sei o que você acha, tampouco o que o próprio Coutinho pensa, mas eu tenho claro que a melhor coisa que ele pode fazer, esportivamente falando, é ter paciência. É ficar mais uma temporada no LFC e ir para o desejado FCB depois da Copa 2018, para aí sim assumir de vez o lugar de Iniesta no XI (eu canto essa pedra desde 2015, inclusive; veja aqui), de preferência em um 4-3-3 com Messi na ponta direita, sem essa maléfica variação para o 4-4-2 em linha.