segunda-feira, junho 30, 2014

Ainda há tempo para mexer no time

Que Löw se inspira no Bayern de Guardiola e na Espanha de Del Bosque, parece-me evidente. A cópia está sendo mal feita, é verdade, mas me parece claro que ela de fato existe. A própria movimentação de Neuer, em especial na partida contra a Argélia, nesta segunda-feira, e a presença de Lahm no meio campo, desde o começo do torneio, indicam isso. Como você sabe, é assim que funciona no time treinado por Pep. E é assim que funciona (quer dizer, não funcionou) na equipe espanhola, não no que diz respeito a lateral "improvisado" no meio ou à função do goleiro, mas sim em relação aos meias de ofício nas pontas (Silva e Iniesta na Roja, Özil e Götze na Alemanha).



Quando se joga com dois meias de ofício nas duas pontas, a tendência é a centralização do jogo, a valorização da posse da bola, a troca de passes, e a carência de infiltrações e finalizações, em contrapartida. Em outras palavras, o time fica pouco vertical e pouco aberto. No 4-3-3 (4-1-4-1) de Joachim Löw, os jogadores das extremas são o canhoto Özil (à direita) e o destro Götze (à esquerda). Ah. Justiça seja feita. O dono da ponta esquerda se machucou e perdeu a Copa (Reus). Tem isso. Ainda assim, há no elenco outras opções mais pertinentes para ocupar as beiradas, ou pelo menos uma delas - embora Löw insista num XI inicial com muitos meio-campistas para poucos atacantes (o mesmo problema da Espanha). Schürrle, Podolski ou Draxler, a meu ver, poderia solucionar essa questão.

Outra questão que me parece inexplicável é a obsessão de Löw por dois zagueiros de ofício nas laterais. Não bastasse escalar dois meias na pontas, ele escala dois zagueiros nas laterais. Confesso que tento entender, mas não consigo. Ou melhor, consigo em partes, pois só vejo um argumento a favor dessa escolha: a bola parada, a jogada aérea, defensiva e ofensiva. Portanto a pergunta a ser feita é: vale a pena? Vale a pena jogar com laterais lentos, pesados e sem tanta qualidade técnica, em prol da força aérea e da suposta segurança lá atrás? Não creio. Para não perder a comparação com o Bayern de Guardiola, lembre-se que no clube bávaro os laterais são intensamente acionados (Rafinha e Alaba), e correspondem muito bem, obrigado (lá tem abertura de jogo).

Veja bem, só para deixar claro, não sou contra a ideia de Lahm na meia cancha. Na verdade não morro de amores, mas também não sou totalmente contra. Só entendo que com dois laterais que na real são zagueiros, e dois pontas que na verdade são meias, Löw complica a vida da Alemanha. Pelo menos um dos dois laterais, e um dos dois pontas, têm que ser do ramo. Agora resta saber se Löw se manterá fiel às suas questionáveis convicções, ou se mudará o time para o confronto das quartas de final diante da França, no Maracanã, dia 4, sexta-feira, às 13h.

A Seleção não tem obrigação de vencer

Após Mano ter sido apunhalado pelas costas pelo cara que manda na CBF, em sua primeira entrevista coletiva no comando da Seleção, em novembro de 2012, Felipão assumiu a responsabilidade: "Nós temos obrigação sim de ganhar o título em casa." Na verdade, dividiu-a com os jogadores, uma vez que treinador não entra em campo.

Já em março desse ano, depois da vitoriosa porém não inquestionável campanha feita na Copa das Confederações, Parreira disse: "Nós somos, entre aspas, o país do futebol que perdeu a primeira Copa em casa e tem a obrigação de ganhar a segunda em casa. Isso nos dá responsabilidade muito grande, mas não está nos atingindo."

Em maio, dois meses depois, às vésperas da estreia da Copa do Mundo, o auxiliar técnico do Brasil apareceu com essa pérola: "O que aprendi em seis ou sete Copas? Que ganhar fora do campo é o mais importante, e não é fácil. Envolve parte operacional, logística, planejamento, relacionamento com torcedores, imprensa, ambiente de trabalho. E isso nós já conseguimos, portanto já estamos com uma mão na taça."

Agora fica mais fácil entender por que os atletas brasileiros estão à flor da pele, não?



Quando você para para analisar o discurso dos comandantes dessa árdua missão, você compreende por que boa parte dos jogadores da Seleção está emocionalmente um caco. Não quero entrar aqui na discussão sobre se o choro em si, antes, durante e depois dos jogos, é benéfico, maléfico ou insignificante (na minha visão é maléfico, mas como disse, não quero entrar nessa discussão). No entanto está mais do que evidente que o elenco não está sabendo lidar com a pressão, não? E se o elenco não está sabendo lidar com a pressão, não está muito em função do discurso de seus comandantes.

"Libertadores é obrigação!" Quantas vezes você já viu essa faixa estendida por torcedores de clubes brasileiros? Muitas, independente do clube. Vez ou outra alguns torcedores, que têm todo o direito de expressarem suas opiniões e seus pontos de vista, decretam que os jogadores do time para o qual eles torcem têm "obrigação" de vencer determinada competição. Ou seja, a partir do momento em que você acredita que seu time tem obrigação de vencer tal competição, você automaticamente desrespeita e menospreza todos os outros participantes dessa competição. Mas tudo bem. Da torcida não espero racionalidade e inteligência emocional. Já da comissão técnica de uma equipe que disputa uma Copa do Mundo, espero.

Espero, por sinal, que Felipão e Parreira tenham lido o livro do Bernardinho - Transformando Suor em Ouro. (Na verdade não devem ter lido, senão não teriam feito o que fizeram nem o que estão fazendo.) Uma das frases desse livro que mais me marcou, entre tantas outras, fala sobre isso: você não tem a obrigação de ser campeão; você tem a obrigação de fazer o seu melhor. É mais ou menos por aí. Ninguém tem obrigação de ganhar nada, mas todos têm obrigação de dar o seu máximo. A preparação é o que interessa, o resto é consequência. Ao aceitar o discurso "temos obrigação de vencer a Copa em casa", contudo, o técnico da Seleção aumenta ainda mais a pressão sobre os jogadores, que já era enorme. Resultado: a maioria deles está emocionalmente na TPM, sensível, imprevisível, sem saber lidar com a situação.

Veja bem, não sou daqueles que acha que o lado emocional é o maior responsável pelo desempenho ruim do Brasil na Copa até aqui. Inclusive penso que só se discute esse assunto - de maneira superficial, o que é pior - e se ignora, talvez por falta de capacidade, outros "xises" da questão, como a parte tática, por exemplo. Aliás, quando Carlos Alberto Parreira opina que "ganhar fora do campo é o mais importante", ele minimiza o campo e bola e revela a fragilidade tática, o baixo entendimento, da comissão técnica do Brasil nesse quesito crucial. (Esse post, entretanto, tem como foco o lado emocional da coisa, e não o tático, que já foi por mim abordado aqui e aqui.)

Enfim. Se psicologicamente alguns jogadores estão na capa da gaita, ou ao menos muito instáveis, mais frágeis, pode ter certeza de que a aceitação do discurso "temos obrigação de vencer a Copa em casa" por parte de quem comanda, e o posicionamento na linha "Copa se ganha fora do campo, já estamos com uma mão na taça", têm um peso gigante nisso. Tanto Felipão quanto Parreira têm sim culpa pelo turbulento momento que atravessa a seleção brasileira, não necessariamente pelo que estão fazendo agora, mas em especial pelo que fizeram antes, pelas posições que tomaram. Em outras palavras, eles não foram capazes de blindar o grupo. Muito pelo contrário.

sábado, junho 28, 2014

Felipão erra ao quadrado

Se você conhecer outro, por favor, me conte. Mas até onde sei, só existe um argumento mais ou menos convincente a favor de Oscar numa das beiradas: deixar Neymar "livre". Em vez de escalar o ponta-esquerda nato Neymar na ponta esquerda, o que naturalmente iria exigir dele a marcação ao lateral-direito (como acontece no Barcelona, por exemplo), Felipão o escala solto, para circular atrás do centroavante e por onde ele bem entender, enquanto o "trabalho sujo" de marcar o lateral adversário fica a cargo de Oscar (contra o Chile, assim como diante da Croácia, Oscar atuou à direita e Hulk à esquerda - sendo que, com a bola, o canhoto Hulk rende mais pela direita).



Há quem goste desse argumento, especialmente no nosso país. Há quem diga que o craque do time não precisa marcar ninguém. Há quem pense que o craque do time precisa estar descansado para poder decidir quando a bola chegar nele. Há quem acredite que a individualidade pode ser mais decisiva do que a coletividade. Claro. Cada caso é um caso. Eu, no entanto, no caso brasileiro, discordo com veemência, por dois motivos (um de ordem tática e outro de ordem emocional). Em outras palavras, uma escolha mal feita por parte do treinador acarreta em dois erros.

Em primeiro lugar, a razão crucial: ao "sacrificar" Oscar numa das beiradas, Felipão mata o meio de campo. O setor mais importante do jogo de futebol, o meio de campo, no caso da seleção brasileira, praticamente inexiste porque o principal meio-campista da equipe é escalado pelo flanco. Ao optar por Oscar pela beirada (para que Neymar não precise marcar o lateral e fique livre para decidir), a meia cancha carece de aproximação, carece de criação, carece de troca de passes, etc. Ao optar por Oscar pela beirada (para que Neymar não precise marcar o lateral), o segundo volante fica isolado pela faixa central, e essa região do gramado, tão vital, é oferecida de bandeja ao oponente. Esse é o motivo tático.

O segundo motivo é simbólico. Pois, ao optar por um esquema para deixar o camisa 10 livre, leve e solto, Felipão nas entrelinhas diz: estou preparando o terreno para que o cara do time decida. Ou seja, o já pressionado Neymar (22 anos), por tudo o que representa, por se tratar de uma Copa no Brasil, fica ainda mais pressionado. É evidente, o time vai sempre depender do craque do time. É evidente que a Argentina depende de Messi, que o Brasil depende de Neymar, e assim por diante. Mas, ao optar por Oscar pela beirada, além de matar o meio campo verde e amarelo, Luiz Felipe Scolari aumenta ainda mais essa dependência, e põe mais peso ainda sobre os ombros do já pressionado Neymar, como quem diz: eles estão correndo por você, agora vá lá e resolva.

sexta-feira, junho 27, 2014

Por que dois jogos seria justo

"Vamos jogar a punição absurdamente lá em cima, assim ninguém vai reclamar que o tiramos da Copa."

Me parece que esse foi o raciocínio dos caras da FIFA. Quem achava que um jogo estaria de bom tamanho para Suárez, ao ver a punição de 9 jogos, mais 4 meses, pensou: "Hm, acredito que eu estava sendo bonzinho demais com Luisito". O comentário do PVC, por exemplo, foi mais ou menos nessa linha (ele usou a palavra "brando").

É justamente esse tipo de pensamento coletivo que a FIFA pretendia, na minha visão.



Tirando os uruguaios, hoje pouquíssimas pessoas entendem como absurdo terem o tirado da Copa. Graças à severa punição da FIFA, quem defendia um ou dois jogos de suspensão para Suárez, hoje já tem outra opinião: "É. Tá certo. Viajei. Um ou dois jogos seria pouco mesmo." Não, meu caro, quero te dizer que não viajaste. É justamente esse tipo de pensamento que a FIFA pretendia pôr na cabeça da opinião púlbica. E pelo visto, claro, eles conseguiram.

Outro argumento a favor de Suárez (a favor no sentido de ir contra a pena que foi dada, não no sentido de achar que ele não merecia punição alguma) é a questão da proporcionalidade. Muito ouvi conversas do tipo: "Se ele foi suspenso por 10 jogos na mordida anterior, dessa vez o castigo deve ser, no mínimo, semelhante." Pela mordida que deu em Ivanovic, o atleta do Liverpool pegou um gancho de 10 partidas (as quatro últimas da temporada 2012/13 e as seis primeiras da temporada 2013/14). Dez jogos num campeonato de pontos corridos, que possui 38 rodadas, representam 26% do torneio. Na Copa do Mundo, onde na melhor das hipóteses você faz 7 jogos, 26% do torneio representam 1.82 (arredondando para cima, 2 jogos).

Não sei se ficou clara minha conta, mas estou tentando tratar a questão pela proporcionalidade das coisas. Se um dos argumentos foi baseado na punição anterior, na quantidade de jogos pela mordida em Ivanovic, esqueceu-se da proporção dos certames. É mais ou menos isso, 10 jogos num campeonato de pontos corridos se equivalem a 2 jogos numa Copa do Mundo. Mas, em vez de pegar 2 jogos de gancho, não: Suárez pegou 9 (eliminado), além de 4 meses, sem falar que foi praticamente criminalizado por uma das instituições mais suspeitas do planeta (que a FIFA não tem moral para julgar ninguém, não tem, mas essa é outra discussão).

Enfim. Desde a mordida em Chiellini, na minha interpretação dos fatos, Luis Suárez merecia um jogo, merecia perder a partida das oitavas. Depois que fiz minhas contas em relação à punição anterior, okay, cheguei à conclusão de que dois jogos (1.82) estariam de bom tamanho (oitavas e possíveis quartas). E por mais que surjam opiniões de todos os lados e todos os gostos, entre leigos e ditos especialistas, mantenho-me com a minha: o mais justo seria dois jogos. De qualquer forma, inocentes somos nós que pensamos que a justiça é cega, e que essas decisões são tomadas imparcialmente, visando apenas o moral e o bom exemplo, ignorando interesses de terceiros (sem falar na má fé de quem julga).

quinta-feira, junho 26, 2014

Seleção da fase de grupos da Copa

Com dor no coração, deixei Cuadrado, James, Alexis e Müller de fora.



A corneta é livre.

terça-feira, junho 24, 2014

À sombra do astro do time

Coitado do Cavani. Quero dizer. Coitado nada. Ele ganha e muito bem para fazer o que faz. Mas, convenhamos, coitado dele. Tanto no PSG quanto no Uruguai, ele joga fora de posição. Centroavante de ofício, camisa 9 nato, matador raro, de técnica, habilidade e força física, tanto no clube quanto na seleção Edinson é deslocado, por causa de Ibrahimovic e Suárez. Ou melhor, por causa de seus respectivos treinadores, que julgam essas as melhores escolhas (discordo do primeiro caso e até concordo com o segundo).



No 4-3-3 do Paris Saint-Germain, Cavani joga na ponta direita (confira aqui na prancheta). Particularmente acho que caberia um 4-4-2 em linha no time francês, com Ibrahimovic e Cavani revezando-se nas funções do ataque, mas essa é outra discussão, merece um post à parte. O fato é que, mesmo fora de posição, em regra na ponta direita do 4-3-3 de Laurent Blanc, ele marcou 25 gols em 44 jogos na temporada 2013/14 (veja esse vídeo). Já na temporada anterior, pelo Napoli, jogando como centroavante que é, Cavani fez 38 gols em 43 partidas (veja esse vídeo). O uruguaio já expressou publicamente sua insatisfação em atuar fora de sua posição, inclusive. Como disse, porém, ele ganha e muito para acatar as ordens do técnico.

Diante da Itália, na terceira rodada do Grupo da Morte, em Natal, nesta terça-feira, Cavani foi de novo "sacrificado" - o que não é novidade -, dessa vez não pela beirada do campo, mas sim pela faixa central. No 3-6-1 adotado por Tabárez, sem a bola ele marcou Pirlo, para que Suárez fosse o último homem (confira aqui na pranheta). O curioso é que, no Liverpool, quando Rodgers opta pelo 4-1-4-1, geralmente Suárez fecha o lado do campo e Sturridge é o nove (veja aqui). Nos Reds, Suárez é o "sacrificado", enquanto na Celeste, Cavani se "sacrifica" por ele (é verdade que Luisito vem de cirurgia, contudo isso acontece mesmo em condições normais de temperatura e pressão). De qualquer forma, mesmo fora de sua praia, tanto no PSG quanto na seleção, são admiráveis a obediência e o comprometimento do camisa 21 uruguaio com o coletivo, à sombra da estrela da companhia.

segunda-feira, junho 23, 2014

Antes tarde do que nunca

Em tempo, às vésperas de enfrentar o Chile nas oitavas da Copa, pinta uma mudança no time: Paulinho finalmente sai. Com todo respeito, vinha sendo escalado pelo que fez, não pelo que faz, e isso pode fazer a diferença num torneio desses.

Na enquete aqui do blog, sobre essa possível mexida, aliás, a maioria votou em Hernanes - eu votei em Ramires (sabemos de nada!). Nem um, nem outro. Quem herda a vaga do volante do Tottenham, como você sabe, é o volante do Manchester City, que entrou no segundo tempo da partida contra Camarões e mudou a cara da equipe.



De fato, Fernandinho é um misto de Hernanes e Ramires, digamos assim. Entre os quatro volantes do elenco, talvez seja o mais completo. Consegue aliar passe (Hernanes) e condução (Ramires, Paulinho). Sabe se infiltrar e sabe distribuir. Sabe acelerar e sabe cadenciar. Sabe aparecer lá na frente e sabe preencher aqui atrás. Sabe também finalizar, sabe marcar gol... Enfim. No fim das contas, sábia foi a decisão de Felipão de mexer. Decisão tomada com atraso, é verdade, mas como diz o ditado, antes tarde do que nunca.

sábado, junho 21, 2014

Daqui pra frente vai ser diferente

É fisicamente impossível atacar sem se expor. A partir do momento em que um time vai para cima do outro, inevitavelmente surgem espaços às suas costas. Se o time que avança com a bola sobe a linha de defesa e ataca compactado, abrem-se espaços às costas dos zagueiros. Se o time que avança segura os defensores lá atrás, abrem-se espaços entre os setores. Ou seja, é impossível atacar sem se expor (é uma via de mão dupla, toma lá dá cá, acontece dos dois lados).

Quando tuitei, durante a partida deste sábado, no Mineirão, que era bom para a Argentina que o Irã "gostasse do jogo", obviamente sabia do risco que era ter o Irã mais próximo da área argentina. Não menos óbvio, no entanto, seriam os espaços que iriam começar a surgir. E, convenhamos, até então os iranianos estavam muito bem retrancados (mérito deles, diga-se). Dentro das propostas de cada um, aliás, a equipe treinada por Queiroz foi superior à treinada por Sabella, que não soube encontrar o caminho do gol em meio a tantos caras de vermelho.



Virou até um clichê de uns tempos para cá (na verdade esse clichê deve existir desde sempre), quando falamos da Seleção, afirmar que "o Brasil tem dificuldades de enfrentar adversários que se fecham lá atrás", que com espaços a Seleção consegue mostrar seu futebol. Ora! Todo time do mundo gosta de jogar com espaços. Todas seleções do planeta preferem atacar com espaços. É mais fácil com espaços, ainda mais quando se tem atletas velozes e habilidosos. E com a Argentina não é diferente. Pelo contrário. Mas nem sempre isso é possível, pois dependendo da estratégia do oponente, serão dez jogadores atrás da linha da bola, compactadíssimos, preenchendo os espaços. Uma vez que o adversário começa a sair para o jogo, contudo, os espaços inevitavelmente aparecem, assim como a possibilidade da transição rápida, do contra ataque. É aí que aparece um Robben, um Neymar, um Messi, um Di María, um Agüero...

Claro. A Argentina jogou mal contra o Irã. Sem dúvida. Não fosse o golaço de Messi no minuto final, o vexame estaria consumado. Como disse, dentro da proposta de cada um, o Irã foi melhor que a Argentina, levou mais perigo ao gol adversário do que o contrário, graças também à eficiência dos iranianos no papel defensivo, sem a bola, à aplicação tática dos jogadores e etc. Daqui pra frente, entretanto, imagino que os argentinos não irão pegar nenhuma equipe tão retrancada assim (sem tirar os méritos de quem a executou; a chamada retranca é legítima e até certo ponto admirável). Daqui pra frente, entretanto, é provável que a Argentina enfrente times que batam de frente com ela desde o minuto inicial, que saiam mais para o jogo desde o seu início, e que consequentemente deixam espaços para os contra golpes. E no contra golpe, devido aos jogadores que possui, convenhamos, a Argentina é letal.

quinta-feira, junho 19, 2014

Lamouchi mata Touré e Bony

Sou fã do 4-4-2 em linha. É o esquema tático mais charmoso e eficiente da história do futebol. Reconheço, no entanto, que ele se tornou praticamente impraticável a ferro e fogo, por uma questão matemática. Como a maioria dos times utiliza três jogadores no miolo do meio campo, a inferioridade numérica se torna inevitável. Por isso, para evitar esse dois contra três no setor mais importante do gramado, um dos atacantes do 4-2-2 em linha precisa marcar o primeiro homem da meia cancha adversária, o que configura o dito 4-4-1-1.

No caso da Costa do Marfim, o 4-2-3-1 é adotado, sendo que muitas vezes, sem a bola, os wingers se alinham aos volantes, e o meia-central circula por trás do centroavante (ou seja, variação para o 4-4-1-1). A distribuição dos jogadores é pertinente. Porém, a meu ver, as peças escolhidas pelo treinador são equivocadas. Em especial porque Yaya Touré joga atrás de Bony, quando na verdade o mundo todo sabe que o melhor volante do mundo na atualidade rende mais quando vem de trás. No Manchester City, por exemplo, em sua melhor temporada na carreira, ele formou a dupla com Fernandinho (esse mais recuado) ou Javi García.



O problema de se ter Touré avançado é que os volantes marfinenses são limitadíssimos com ela nos pés. Não se espera de Tioté e Die construções de jogadas, apenas destruições. Logo, Yaya precisa voltar para buscar a bola, e Bony fica totalmente isolado, distante do resto da equipe, já que Gervinho e Gradel atuam bem abertos, e que o cara que deveria encostar nele precisa se afastar para buscar o jogo mais atrás. No fim das contas, são dois erros em um, pois tanto Yaya quanto Bony pagam o pato.

Qual a solução? Na minha visão, Didier Drogba.

Pelo seguinte: com Drogba em campo, na vaga de um dos volantes, Touré voltaria a sua praia, ao lado de Tioté ou Serey Die, vindo de trás, como gosta, onde rende mais, enquanto Bony teria a companhia de Drogba. No mesmo 4-4-1-1, diga-se, Drogba jogaria atrás do centroavante, sem a bola marcando o primeiro volante adversário, e com ela trabalhando próximo a Bony (confira aqui nessa prancheta). Dessa maneira o latifúndio que existe entre os setores de meio e ataque desapareceria. E o próprio Touré teria mais opções quando dominasse a bola, levantasse a cabeça e olhasse pra frente. Teria à frente dois caras fortes e técnicos, infernizando a vida dos zagueiros. Hoje, todavia, quando domina, levanta a cabeça e olha pra frente, Touré vê apenas um dos dois, a milhas de distância.

Enfim. Não acho que necessariamente seja o caso Drogba e Bony titulares, nesse 4-4-1-1, com Touré volante, pela faixa central da linha de quatro do meio campo. Não acho nenhum absurdo que eles comecem juntos também. Mas ao menos no segundo tempo, Sabri Lamouchi poderia arriscar, né, uma vez que nas duas partidas anteriores (Japão e Colômbia) ele sacou justamente Bony para pôr Drogba.

Ah, e tem outra: além do benefício tático e técnico que essa mudança traria ao time, o poder de fogo, o poder de finalização, o cheiro de gol, aumentaria significativamente. Vamos ver qual vai ser. Após a derrota por 2 a 1 para a Colômbia, nesta quinta-feira, em Brasília, a Costa do Marfim fecha a fase de grupos contra a Grécia, dia 24, em Fortaleza.

Sai Paulinho, entra Hernanes?

"Se for para Paulinho sair do time titular na próxima rodada, qual a melhor opção para entrar?" Segundo o resultado da enquete do blog, com 46% dos votos, Hernanes. Ele foi o eleito para entrar na vaga do volante do Tottenham, na partida contra a já eliminada seleção camaronesa, segunda, em Brasília. Ramires e Fernandinho ficaram empatados com 25%, e a alternativa "outro" obteve 4%.



O voto é secreto, mas faço questão de abri-lo. Votei em Ramires.

Por mais que o miolo do meio campo do Brasil esteja carecendo de posse e passe (talvez seja o grande defeito do time na Copa), e por mais que Ramires seja um infiltrador nato, e não um passador, confesso que votei nele. Porque penso que o volante do Chelsea é um dos melhores na função de flecha, de infiltração, de aceleração vertical, e isso é uma arma letal contra qualquer um (Paulinho também é bom nisso, mas está mal tecnicamente).

Mas e o passe no meio campo, Carlão? Não é esse o problema da Seleção na Copa? Bom. Tem isso. É verdade. Como disse, o grande defeito da equipe verde e amarela na competição é a meia cancha, é a falta de qualidade no passe e a falta de aproximação no setor mais essencial de todos. Sim, nesse caso, faria mais sentido Hernanes. Esse problema, no entanto, poderia ser simplesmente resolvido se Felipão escalasse Oscar na faixa central.

Luiz Felipe Scolari, aliás, tem em mãos um dos melhores meias-centrais do mundo, porém o escala pela beirada. Vai entender. E quem paga o pato com esse erro são os outros centro-campistas, em especial o isolado segundo volante, já que Luiz Gustavo atua mais colado na linha dos zagueiros do que qualquer outra coisa. Ou seja, no fim das contas, se Oscar continuar pelos flancos, acho que não há Ramires, nem Fernandinho ou Hernanes que resolva (o que, claro, não isenta Paulinho de suas fracas exibições contra Croácia e México).

terça-feira, junho 17, 2014

Mexer ou não mexer, eis a questão

Nesta terça-feira, contra o México, no Castelão, Oscar começou o jogo pelo corredor esquerdo, ainda no primeiro tempo inverteu com Ramires e passou para o direito, e na segunda etapa atuou pela faixa central.

Aí te pergunto: será mesmo que isso ajuda? Será mesmo que é benéfico à equipe? Porque às vezes me pergunto até que ponto essa troca de posições é positiva. Ou melhor: me pergunto até que ponto ela é negativa. Pois vejo mais pontos negativos do que positivos nessas mexidas constantes no posicionamento dos jogadores, em especial de Oscar e Neymar, os dois grandes craques do elenco verde e amarelo.

Muitos dizem que isso, essa mudança, "confunde a marcação adversária", opinião da qual eu discordo com força. O que confunde a marcação do adversário é a movimentação pertinente dos jogadores com a bola. Já sem ela, como tem acontecido com a Seleção, na minha visão não adianta nada. Ou melhor: confunde os próprios brasileiros, já que ela impede a repetição, e sem repetição não há entrosamento.

Perguntei, inclusive, durante a partida, no Twitter: "Se Oscar rende mais por dentro e Neymar por fora, por que escalar Oscar por fora e Neymar por dentro?" Juro que não entendo. E discordo quando argumentam, em favor de Neymar pela faixa central, que "o craque do time tem que ter liberdade para criar". Quero dizer. Na verdade, concordo em partes. Desde que a origem do camisa 10 seja a ponta esquerda, porque partindo dali, com a bola dominada, ele entra infernalmente na diagonal.

Falando em camisa 10, aliás, o verdadeiro camisa 10 do Brasil, o único meia de ofício no plantel brasileiro, chama-se Oscar. Não espero de Luiz Gustavo e Paulinho (jogadores do corredor central), por exemplo, aquele passe vertical, aquela enfiada. Do Oscar, em contrapartida, espero. Jogando pela beirada, contudo, fica difícil isso acontecer.

Enfim. Como costumo dizer, o craque se adapta (tanto é que Oscar foi bem demais contra a Croácia, mesmo atuando pelo lado do campo). Mas sem dúvida, pelo menos na minha cabeça, o rendimento individual e coletivo da equipe seria melhor com Oscar por dentro e Neymar por fora, com cada um na sua praia, com cada um no seu quadrado.

Dito isso, registrada minha queixa, reconheço que no momento a prioridade não é essa questão do reposicionamento desses atletas. No momento, na minha interpretação, e creio que na de várias pessoas, o primeiro passo para o encaixe é a saída de Paulinho do XI (tem sido escalado pelo que fez, não pelo que faz). A pergunta é: Felipão concorda? Eu, honestamente, acredito que sim, até porque ele teve 90 minutos diante do México e o treinador não vai se sentir culpado ao substituí-lo. Com um fundinho de torcida, confesso, aposto que o volante do Tottenham será reserva contra Camarões, dia 23, em Brasília.

Wilmots complica Bélgica na estreia

Não entendi a escolha de Marc Wilmots. Juro que tentei, dentro das minhas limitações, entendê-la, mas confesso que não consegui. Não compreendi por que Chadli, do Tottenham, jogador de beirada de campo, winger, ponta, como queira, foi escalado pela faixa central, ao lado de Dembélé (completaram o time De Bruyne na extrema direita e Hazard na esquerda, além de Lukaku na referência e Witsel à frente da zaga).

No 4-1-4-1 da Bélgica, na minha visão, não faz sentido colocar Chadli por ali (se alguém quiser me ajudar a entender, estou à disposição). Ainda mais quando se enfrenta um oponente "retrancado", o que exige velocidade por fora e passe de qualidade por dentro (o que se viu foi o inverso). Justiça seja feita, porém, não se pode dizer que o péssimo primeiro tempo diante da Argélia, no Mineirão, nesta terça-feira, foi fruto exclusivo dessa opção infeliz do treinador. Não se pode botar a conta toda nessa decisão equivocada. Mas que ela foi a maior responsável, foi, pois ela implica em efeitos colaterais.



Outras escolhas de Wilmots também foram infelizes, é verdade, como deixar Fellaini no banco. Claro, falar depois é fácil, né. Depois que o meio-campista do Manchester United entrou e praticamente mudou o jogo (beijo, Moyes!), em especial por causa da bola aérea, é cômodo apontar o erro inicial do técnico. Contudo, caso Wilmots não tivesse inventado moda com Chadli pela faixa central (why?!), o provável parceiro natural de Dembélé, desde o pontapé inicial, teria sido Fellaini.

No amistoso do dia 26 de maio, contra Luxemburgo, aliás, esse foi o time, com o 8 no XI, ao lado de De Bruyne (confira aqui na prancheta). Ou seja, optar por Chadli pela faixa central não queima apenas o próprio Chaldi, que fica perdido por ali, mas também significa o remanejamento de outros jogadores, como deslocar De Bruyne à beirada direita (em vez de contar com Mertens ou Mirallas por ali, que são da posição, são do ramo).

Enfim. Dentro das minhas limitações de informação e até de conhecimento, parece-me que baixou o Professor Pardal em Wilmots, que ele quis criar algum elemento para surpreender o adversário. Sei lá. Quis encaixar bola no quadrado e quadrado na bola (naqueles brinquedos de crianças e macacos, sabe?). Em outras palavras, complicou, quando na verdade a simplicidade muitas vezes é o segredo do sucesso.

Menos mal que, em tempo, o treinador belga corrigiu no intervalo (assim como fez Sabella no Maracanã, contra a Bósnia), e aos poucos foi encontrando a equipe, com Mertens e Fellaini entre os onze. Registrada minha cornetada, o fato é a que Ótima Geração não estreou bem. A essa altura do campeonato, entretanto, o que importa são os três pontos, e eles vieram. Aos trancos e barrancos, mas vieram (2 a 1 de virada). Agora é se preparar para pegar a Rússia, no Rio, dia 22, também às 13h, de preferência com Fellaini titular e um ponta-direita de ofício na ponta direita.

domingo, junho 15, 2014

Não se mexe no Quarteto Fantástico

Não sei se foi preocupação excessiva com Dzeko, se foi uma consequência dos treinamentos... Só sei que, diante da Bósnia, na estreia da Copa, neste domingo, no Maracanã, Sabella mudou o XI e o esquema tático habituais da Argentina: trocou o 4-4-2 em losango pelo 3-5-2, e quem pagou o pato foi Higuaín.

Sem o centroavante do Napoli, o time ficou sem profundidade. Sem Gonzalo para aprofundar a defesa adversária, as linhas da Bósnia ficaram próximas e a marcação em Messi era sempre dobrada. Os espaços ficaram escassos, e o desempenho do 10 foi bastante abaixo da média. Basicamente foi anulado na ponta direita, no primeiro tempo.

Falei em 3-5-2, mas pode-se ler 3-4-3, já que Messi atuou na ponta direita mesmo, enquanto Agüero trabalhou na referência (não é a dele), e Di María caiu quase sempre pela ponta esquerda. Ou seja, com três homens na zaga, dois nas alas e, digamos assim, três no ataque, o miolo da meia cancha ficou exposto demais com Mascherano e Maxi Rodríguez. Resultado: nos primeiros 45 minutos a Argentina sofreu defensiva e ofensivamente, sem e com a bola.



Sabella corrigiu no intervalo. Foi sábio e não insistiu no erro. Reconheceu que a mudança feita por ele não deu certo - pelo contrário, deu errado com força - e voltou à etapa final com a equipe habitual. Fez duas substituições (Campagnaro e Maxi por Higuaín e Gago) e voltou com a linha de quatro na defesa, a trinca formada por Mascherano, Gago e Di María. E Messi virou enganche, desprendido da ponta direita, centralizado, atrás da dupla Higuaín e Agüero.

Dessa maneira, no 4-3-1-2, com Messi recompondo sem a bola lentamente, literalmente andando em campo (Di María, em compensação, é o demônio nesse aspecto), a Argentina se reencontrou, se reergueu tanto defensiva quanto ofensivamente, atingiu o equilíbrio, e merecidamente alcançou a vitória (2 a 1).



Sem dúvida, esse é o caminho. Sabella, penso eu, se deu conta de que no Fantastic Four não se mexe. Imagino eu, se deu conta de que, independente das características do adversário, Di María, Messi, Agüero e Higuaín jogam juntos, não só por uma questão técnica, mas também pela questão tática. Pois com o centroavante do Napoli no gramado, o rendimento dos demais cresce (em especial o de Messi e Agüero). E o esquema mais indicado para encaixar os quatro é esse 4-4-2 em losango mesmo (4-3-1-2).

Sem querer comparar mas já comparando, pode-se traçar um paralelo, por exemplo, com o time de van Gaal. Que joga no 3-5-2 (3-4-1-2), é verdade, porém deixa os três caras mais adiantados sem tantas responsabilidades defensivas. Na Holanda, Sneijder, Robben e van Persie correm bem menos sem a bola do que os outros sete companheiros de linha. Na Argentina, mal comparando, isso ocorre com Messi, Agüero e Higuaín.

Enfim. Espero que na segunda rodada, contra o Irã, dia 21, sábado, em Belo Horizonte, Sabella inicie com o XI da segunda prancheta.

sexta-feira, junho 13, 2014

Del Bosque se afunda com medalhões

Quatro holandeses da final de 2010 foram titulares nesta sexta-feira: De Jong e Sneijder, além da dupla Robben e van Persie (dois caras considerados por mim nível 5 na escala de 1 a 6 de craques da Copa). Em relação à Espanha, esse número sobe para sete: Casillas, Sergio Ramos, que jogava na lateral direita, Piqué, Busquets, Alonso, Xavi e Iniesta.

Se deixarmos de lado De Jong, e até Sneijder, veremos que os titulares da Holanda 2010 que jogaram hoje são caras extraclasses, cracaços, jogam até com dengue. Do outro lado, se deixarmos de lado os defensores, que no momento são indiscutíveis lá atrás (apesar da falha grave de Casillas), e pensarmos somente no meio campo, veremos que é exatamente o mesmo meio campo, só que quatro anos mais velho. É verdade, tem a inclusão de Silva. Mas é praticamente a mesma meia cancha. Só que com quatro anos a mais de vida.



Não quero emplacar uma Era Xavi aqui. Longe disso. Porém, você que me segue no Twitter, sabe que desde sempre, desde os últimos meses, desde a temporada 2013/14 toda, na real, eu defendo a passada de bastão do meia de 34 anos, tanto na seleção quanto no clube, para Fàbregas. Por isso fico à vontade para fazer essa abordagem agora, após a goleada. Não posso ser acusado de oportunista, sequer suspeito. E longe de mim querer botar na conta de Xavi a humilhante derrota por 5 a 1 para a Holanda. Entre outros motivos, porque futebol é um esporte coletivo. Sem dúvida, no entanto, o camisa 8 da Roja simboliza o resquício, as cinzas da equipe campeã do mundo. Há quatro anos.

Esse post sobre a renovação de Wenger com o Arsenal ajuda a explicar o que eu penso sobre o assunto. De certa forma, é o que acontece com Xavi, é o que acontece pela Espanha. Uma gratidão eterna pelos feitos do passado, que, se mal administrada, impede a evolução (não é à toa que o campeão do mundo geralmente vai mal na Copa seguinte). Pô, o elenco hispânico é um dos melhores do torneio. Se não tivesse alternativas, vá lá, tudo bem. Mas tem Fàbregas, Mata, Cazorla, Koke no banco de reservas (sem falar no De Gea). E ainda assim, repete o XI de quatro anos atrás. Aí não, né. O próprio Isco, que eu jurava que seria titular nessa Copa, por ser um jogador de habilidade, de beirada de campo, de características inexistentes no plantel, sequer foi convocado.

A falta de jogadores com essas características, aliás, faz com que a Espanha fique refém da faixa central. No 4-2-3-1 espanhol, sendo Silva e Iniesta, dois meias de ofício, os dois "pontas" do time, o jogo fica muito concentrado por dentro, sem homens abertos, afunilado, tiquetaqueado para lá e para cá, sem profundidade, sem atletas para chegar à linha de fundo ou encostar no nove. Em 2010 ainda tinha Pedro. (Ah, Navas se machucou, é verdade. Tem isso. Se bem que provavelmente ele - Isco idem - seria reserva mesmo, então não faz diferença.)

Enfim. Não quero pegar no pé de Xavi. Se há um responsável por essa equipe ter se tornado previsível, esse alguém é o treinador. Se há alguém que precisa entender que se escala pelo que se faz, e não pelo que se fez, esse alguém é o treinador. É ele quem precisa saber diferenciar a obra da pessoa, saber separar o trabalho atual, o rendimento atual, do currículo. E me parece que Del Bosque não conseguiu fazer isso. Ou ao menos não está conseguindo, já que restam dois jogos e a Espanha teoricamente está a duas vitórias das oitavas de final. Se repetir a base do XI do jogo de hoje contra a Holanda (ou melhor, do jogo de quatro anos atrás), todavia, é provável que a atual campeã seja eliminada na fase de grupos.

Xingamento é uma coisa, vaia é outra

Odeio aquele papo que vigora entre boa parte dos torcedores de futebol no Brasil, e acredito que no mundo: "paguei pelo ingresso, logo tenho sim o direito de xingar". Não, meu caro. Não tem. Ninguém tem o direito de xingar ninguém, seja no estádio, no teatro, na rua, na fazenda, em Marte ou num universo paralelo. Uma coisa é vaiar, outra coisa é xingar. São coisas pra lá de distintas. À vaia, você tem o direito. Ao xingamento, não. Mas, claro, no anonimato da multidão todo mundo vira machão irracional (homens, mulheres, e até crianças - essas, coitadas, influenciadas pelos demais, muitas vezes pelos próprios pais).

Outro ponto que tem me incomodado em relação ao "Ei, Dilma, vai tomar no cu!", que rolou ontem, na Arena Corinthians, é o fato de algumas pessoas argumentarem que pegou muito mal por se tratar de uma mulher. Ora! Não lutamos tanto pela igualdade dos sexos? Por mais que haja as diferenças naturais entre homens e mulheres, não queremos tanto que todos sejam tratados da mesma maneira? Não somos todos iguais? Portanto, não pode ser por aí o argumento. "Ah, tadinha, ela é uma mulher." Se fosse um homem sendo xingado, então seria de boa? Não é por aí, né. Como disse, ninguém tem o direito de xingar ninguém, independente do local, e indepentende do sexo, da crença, da etnia, da idade, etc.

Brasil é Oscar +10

Quando Felipão disse que a dúvida entre Oscar e Willian não existia na cabeça dele, e sim na cabeça da imprensa - que ela mesma criou e tentou justificar com analistas imediatistas de plantão -, eu acredito. Mas sem dúvida o treinador da Seleção, que usa as entrevistas coletivas como ninguém (no bom sentido), mandou uma (in)direta ao próprio camisa 11, como quem diz "estou e sempre estive contigo, não dê bola para o que esses caras estão falando, eles não entendem nada".



O que me chamou a atenção na belíssima exibição de Oscar no jogo da estreia, contra a Croácia, na Arena Corinthians, nesta quinta-feira, foi seu posicionamento. Você que me segue no Twitter sabe que eu o defendo com unhas e dentes, e que não mudo de opinião por rodada. Enquanto boa parte dos torcedores e dos jornalistas queria sua saída para a entrada de Willian, eu o banquei. Porém, confesso, sempre banquei Oscar pela faixa central do 4-2-3-1. Sempre digo que, para jogar pela faixa central, Oscar é melhor que Willian. Para atuar pela beirada, no entanto, Willian é melhor que Oscar. Sigo pensando dessa maneira, claro. Contra os croatas, contudo, ele foi escalado à direita, e mesmo assim, deitou e rolou.

Craque é assim. Se adapta. Embora indiscutivelmente renda mais por dentro, Oscar mostrou que pode quebrar esse galho, com muita classe, quando o técnico quiser. Aliás, Felipão deve ter tido seus motivos para escalá-lo pela direita (Hulk pela esquerda e Neymar por dentro). Eu, porém, entendo que a melhor alternativa é, em 99% das vezes, Oscar por dentro, Hulk na ponta direita e Neymar na ponta esquerda. Por sinal, se por um lado Oscar brilhou (Oscar que não ficou preso à ponta direita, diga-se, circulou bastante), pelo outro Hulk foi apagado, em especial porque, à esquerda, o camisa 7, canhoto, perde uma de suas principais armas: o corte para dentro e o arremate com a parte interna do pé. Apesar do excelente desempenho de Oscar pela beirada (insisto, o craque se adapta, e do meio pra frente ele joga praticamente em todas posições, sem exagero), imagino que Felipão voltará ao 4-2-3-1 com cada um no seu quadrado, diante do México, no Castelão, dia 17.

terça-feira, junho 10, 2014

Portugal goleia às vésperas da estreia

Dois em um. No 5 a 1 sobre a Irlanda, nesta terça-feira, o camisa 9 não foi apenas o camisa 9. Foi dois em um. Não foi apenas o centroavante do time, autor de dois gols típicos de centroavante, no primeiro tempo. Foi também o cara responsável pelo trabalho sujo pelo lado esquerdo do campo. Sem a bola, para liberar Cristiano Ronaldo, em regra era ele quem fechava o flanco e eventualmente acompanhava o lateral-direito adversário.

Com a bola, claro, Hugo Almeida trabalhou na referência do 4-3-3 lusitano, enquanto Cristiano Ronaldo circulou por uma extensa faixa, geralmente priorizando a origem das jogadas pelo lado esquerdo, onde notoriamente rende mais (espaço também ocupado por Coentrão, vide o lance do gol contra e o gol do próprio lateral, após passe de Nani, no segundo tempo); Varela preencheu o lado direito. Sem a bola, no entanto, talvez até por uma questão física (CR7 estava voltando agora), ou por uma mera visão tática mesmo, Hugo Almeida cumpriu o papel chato de fechar a beirada do campo.



Taticamente falando, não sei até que ponto isso é positivo. Na verdade não sei até que ponto esse comportamento ocorrerá na Copa. De repente o que se viu hoje foi exceção, em função de Ronaldo estar voltando dum período inativo. Mas se na Copa a regra for essa, confesso que não sei até que ponto vai a eficiência de Hugo Almeida cumprindo essa função, de marcar por zona lá atrás (quando a marcação é por pressão, lá em cima, aí sim Hugo Almeida é o último homem, ou o primeiro a apertar a linha defensiva adversária, se preferir). A vantagem de tê-lo marcando lá atrás, pelo lado esquerdo, claro, é ter Cristiano Ronaldo descansado lá na frente, à espera da bola para puxar o contra golpe, seja conduzindo-a, ou via lançamento.

O cenário da estreia, por exemplo, pode ter a Alemanha trabalhando a posse da bola no campo ofensivo, e Portugal fechado lá atrás, com Hugo Almeida vigiando Lahm, e CR7 mais adiantado, preservando as pernas e os pulmões, para fazer a transição rápida e pegar os, digamos, lentos zagueiros alemães com muito espaço à frente. Outra opção é o bom e velho esquema com duas linhas de quatro, com Cristiano Ronaldo e Hugo Almeida no ataque, e Raul Meireles dobrando a marcação do lado esquerdo (foi assim boa parte da segunda etapa contra a Irlanda). Nessa situação, porém, vale ressaltar a exposição do miolo da meia cancha, com dois jogadores apenas (William Carvalho/Miguel Veloso e João Moutinho). No confronto contra a Alemanha, por exemplo, eles ficariam em desvantagem numérica (e técnica) diante de Khedira/Kroos, Schweinsteiger e Özil.

Seja como for, a boa notícia é que o Bola de Ouro jogou uns 60 minutos nesta terça, e aparentemente terá condições de jogar os 90 contra a Alemanha, dia 16, às 13h, na Fonte Nova, em Salvador. Se ainda não está nem estará 100% fisicamente, o desempenho no amistoso com os irlandeses pelo menos indica que Cristiano Ronaldo deve atuar o jogo todo (sempre lembrando que sua bola parada pode decidir). Caso eu esteja enganado e ele não consiga jogar os 90 minutos, entretanto, Nani mostrou que pode substituí-lo no segundo tempo, à esquerda, e botar fogo na partida.

domingo, junho 08, 2014

Duas soluções para o mesmo problema

Pelo visto me enganei. Quando Franck Ribéry foi cortado, disse no Twitter e no Facebook que seu provável substituto era Antoine Griezmann. Neste domingo, no amistoso contra a Jamaica, no entanto, quem ocupou a ponta esquerda do 4-3-3 francês foi Karim Benzema (o melhor em campo, diga-se, com dois gols e uma assistência). Imaginei que o reserva imediato do camisa 7 fosse o jogador da Real Sociedad porque, no amistoso contra a Noruega, na semana retrasada, ele foi o titular (veja aqui a prancheta). O desempenho diante dos jamaicanos (três a zero no primeiro tempo, mais cinco tentos no segundo), todavia, pode indicar a manutenção de Benzema por ali, e Griezmann no banco. (A arte abaixo é da France Football.)



Uma das desvantagens de se ter Benzema na ponta é evidente: poder de marcação. O centroavante do Real Madrid me parece lento e pesado para acompanhar o lateral-direito do outro time. Claro, dependendo do lado direito ofensivo do oponente, isso não significa muita coisa. Ainda mais se a França conseguir impor um misto de valorização da posse de bola com marcação por pressão, lá em cima. Já contra adversários que possuem um lateral-direito leve e arisco (a exemplo de um ponta-direita), a bomba pode estourar no colo de Evra (se Matuidi cobre aquele lado, abre-se espaço no meio, é uma questão matemática). Mas essa talvez seja a única desvantagem. As vantagens, por outro lado, são inúmeras.

A primeira delas também é evidente: poder de finalização. Com ele e Giroud em campo, os franceses contam com dois goleadores, dois atacantes que não pensam duas vezes antes de bater em gol. O fortalecimento da jogada aérea (defensiva, inclusive) com os dois em campo também merece destaque. Outro ponto a favor de Benzema em relação a Griezmann à esquerda, na do Ribéry, é o fato dele ser destro. Griezmann é mais leve, é mais habilidoso, é mais winger que Benzema, sem dúvida, mas é canhoto. O fato de Benzema ser destro cria a possibilidade da puxada para dentro e do chute em gol com a parte de dentro do pé, uma arma letal, vide seus gols em cima da Jamaica.

Existe uma terceira possibilidade, com Giroud, Benzema e Griezmann juntos, que jamais vi na prática, porém em tese me parece pertinente em ocasiões especiais, em eventuais situações de reversão de placar e etc: um 4-4-2 em linha com Valbuena na extrema direita, Griezmann na esquerda, e Benzema e Giroud na frente, além dos dois volantes. O duro é desmontar o trio composto por Cabaye, Pogba e Matuidi, eu sei. Contudo, como disse, é uma alternativa para ocasiões especiais. E o fato dos wingers serem um destro à direita e um canhoto à esquerda, favoreceria os cruzamentos, o chuveirinho, bem-vindo em momentos de desespero.

O desfalque de Ribéry pesa demais, claro. Talvez não pese tanto quanto Falcao García para a Colômbia, mas com certeza pesa mais do que Reus para a Alemanha, por exemplo. Entretanto lamentar não leva a nada, e Didier Deschamps tem duas soluções (ou até três) interessantes em mãos para o problema. Dependendo das características do adversário, pode ser que o treinador opte por Griezmann ou Benzema na ponta esquerda. Seja como for, apesar do empolgantíssimo 8 a 0 na Jamaica, não se espera da França uma campanha pelo título (eu pelo menos não espero, nem com Ribéry). Se a obviedade prevalecer, Les Bleus devem ser eliminados pela Alemanha nas quartas de final. É sabido, no entanto, que o futebol não é um terreno fértil para obviedades.

quarta-feira, junho 04, 2014

Abram o olho com a Azzurra

Brasil, Alemanha, Espanha e Argentina. Estas são, eu diria que pela ordem, as quatro grandes favoritas à Copa do Mundo. Não a minha ordem. A minha favorita, como você sabe, é a Argentina. Mas pelo que ouço e leio por aí, o principal candidato ao caneco é o Brasil (Parreira curtiu isso), e o time de Messi fica atrás inclusive de Alemanha e Espanha. De qualquer forma, o palpite não foge desses quatro times. O que pode ser bom para a Itália.

Claro, cada um lida de um jeito com o favoritismo. Como diria Bernardinho, o favoritismo é uma armadilha. Se vão cair nela ou não é outra história (muitos caem). Seja como for, esse risco a Itália não corre.

Não é só esse lado extracampo, no entanto, que está a favor da Azzurra. Dentro das quatro linhas a equipe treinada por Prandelli indica que é capaz de bater de frente com qualquer adversário na competição. Não no sentido de "camisa", de tradição, etc. Não é isso. Refiro-me ao campo e bola mesmo. E o amistoso contra Luxemburgo, nesta quarta-feira, em Perugia, apesar do 1 a 1 no placar, foi animador, pelo menos na minha visão.



Com De Rossi à frente da zaga e Verratti e Pirlo lado a lado, completando a meia cancha, a qualidade da posse de bola cresce muito (costumo dizer que com Verratti em campo a Itália tem dois Pirlos). O passe (curto, médio e longo) é a grande virtude deles. Ou seja, não tem como dar errado. Coisa ruim não sai dos pés deles. Pelo contrário. Aí a posse se qualifica. Sem falar em De Rossi. E na movimentação do próprio Marchisio, que é o extremo-esquerdo do time, mas transita bastante pela faixa central (algo semelhante ao Iniesta na Espanha). Pela direita Candreva é mais ponta mesmo, mais winger, no 4-1-4-1/4-3-3.

Posicionamento dos jogadores à parte (veja aqui a prancheta), o que me chama a atenção é o potencial para fazer da posse a sua arma (na estreia contra a Inglaterra em Manaus, aliás, isso pode fazer a diferença; defender cansa mais do que atacar). Portanto não espere uma Itália "retrancada", fechada lá atrás, em busca ou à espera de uma jogada apenas. Não penso que é tão favorita quanto Argentina, Alemanha, Brasil e Espanha (essa é minha ordem), porém acho que não vou me surpreender se os italianos conquistarem o pentacampeonato mundial na Copa do Brasil.

segunda-feira, junho 02, 2014

Não se muda de opinião a cada rodada

Não sou de ferro. Vou puxar a brasa à minha sardinha.

No dia 15 de maio, entre a quarta e a quinta rodada do Brasileirão, tuitei isso (imagem abaixo). Cinco rodadas depois, hoje meu palpite ganha forma no topo da tabela. E por ali permanecerá durante toda a Copa do Mundo. A questão é: estará lá a três, duas rodadas do término do torneio?

Na verdade, anteriormente, no dia 21 de abril, eu havia tuitado isso. Mas, confesso, após a chegada de Levir Culpi ao Galo, da maneira como foi, batendo de frente com Deus e o mundo, falando que jogador para ele é número e o caramba, tuitei isso.

Em princípio estou contradizendo o título do post, eu sei, mas você verá que nem tanto. Pode ter certeza de que do dia 15 de maio até hoje, 2 de junho, muita gente colocou e tirou o Grêmio dessa lista, tirou e colocou o próprio Atlético-MG, e talvez algum outro. E pode ter certeza de que muita gente vai mudar os integrantes dessa lista a cada duas ou três semanas, quando não antes.



É muito cômodo mudar de opinião a cada duas rodadas. É muito fácil apontar fulano e beltrano como favoritos a isso ou a aquilo, e menos de um mês depois trocar de opinião. Nada contra trocar de opinião, claro. Pelo contrário. Como diria Raul, eu prefiro ser essa metamorfose ambulante. Evidente. No caso do futebol, no entanto, o imediatismo da análise faz com que a opinião seja alterada de um fim de semana para o outro, sem fundamento. Em outras palavras, o imediatismo das análises desqualifica elas mesmas. E me refiro às análises dos torcedores, dos jornalistas, dos dirigentes, de quem quer que seja. Enfim. As análises imediatistas são um dos cânceres do futebol brasileiro.

Também acho meio cômodo apontar, sei lá, oito equipes para brigarem pelo G4. Para disputarem o G4, creio que uns cinco, no máximo seis candidatos, seja mais justo. Senão vira bagunça, né. E o mesmo se aplica aos favoritos ao título. Apontar, sei lá, quatro, cinco candidatos ao título, é mole, é lindo. Quero ver apontar dois, três candidatos ao caneco (esse ano ainda está fácil apontar o grande favorito porque o Cruzeiro está bem à frente de seus supostos concorrentes diretos). "Meu favorito ao Brasileirão 2014 é o Cruzeiro, claro." Tweet de 21 de abril.

Veja bem. Ninguém é obrigado a dar palpite. Dá palpite quem quiser, concorda ou discorda quem tiver interesse. Quem não tiver, não dê bola, ignore. Mas se for dar, mantenha-se fiel a ele. E lembre-se: nenhum palpite garante o futuro. O futuro ao tempo pertence e a mais ninguém.

Há uma grande diferença. Dizer "acredito que acontecerá isso" por causa disso, disso e disso é uma coisa; dizer "acontecerá isso" e ponto, é outra coisa. Por isso não garanto que o Cruzeiro será o campeão, nem que Corinthians, São Paulo, Fluminense e Internacional completarão o Top 5 ao final da 38ª rodada. Apenas acredito nisso - desde o dia 15 de maio, diga-se - baseado numa série de argumentos, como elenco, treinador, desempenho dentro das quatro linhas, potencial, mercado, planejamento, etc. E por coerência não vou mudar de opinião lá pelas tantas por pura conveniência. Caso, lá pelas tantas, na reta final do campeonato, apenas um ou dois dos times dos quais eu citei esteja no Top 5, azar o meu, terei errado três ou quatro times, terei errado o palpite. Acontece. Aliás, é o que mais acontece.

domingo, junho 01, 2014

O XI de todas as Copas

A 11 dias da Copa do Mundo, entro na brincadeira e escalo meu 11 de todos os tempos no torneio. Mas só para deixar claro, a primeira Copa que tenho na memória é a de 1994 (e olhe lá), portanto a maioria dos selecionados abaixo eu não vi jogar. Permito-me me basear, assim como muita gente, em relatos, dados estatísticos, histórias, vídeos e etc para chegar a esse time.

Que tal?



A corneta é livre.