Quatro holandeses da final de 2010 foram titulares nesta sexta-feira: De Jong e Sneijder, além da dupla Robben e van Persie (dois caras considerados por mim nível 5 na escala de 1 a 6 de craques da Copa). Em relação à Espanha, esse número sobe para sete: Casillas, Sergio Ramos, que jogava na lateral direita, Piqué, Busquets, Alonso, Xavi e Iniesta.
Se deixarmos de lado De Jong, e até Sneijder, veremos que os titulares da Holanda 2010 que jogaram hoje são caras extraclasses, cracaços, jogam até com dengue. Do outro lado, se deixarmos de lado os defensores, que no momento são indiscutíveis lá atrás (apesar da falha grave de Casillas), e pensarmos somente no meio campo, veremos que é exatamente o mesmo meio campo, só que quatro anos mais velho. É verdade, tem a inclusão de Silva. Mas é praticamente a mesma meia cancha. Só que com quatro anos a mais de vida.
Não quero emplacar uma Era Xavi aqui. Longe disso. Porém, você que me segue no Twitter, sabe que desde sempre, desde os últimos meses, desde a temporada 2013/14 toda, na real, eu defendo a passada de bastão do meia de 34 anos, tanto na seleção quanto no clube, para Fàbregas. Por isso fico à vontade para fazer essa abordagem agora, após a goleada. Não posso ser acusado de oportunista, sequer suspeito. E longe de mim querer botar na conta de Xavi a humilhante derrota por 5 a 1 para a Holanda. Entre outros motivos, porque futebol é um esporte coletivo. Sem dúvida, no entanto, o camisa 8 da Roja simboliza o resquício, as cinzas da equipe campeã do mundo. Há quatro anos.
Esse post sobre a renovação de Wenger com o Arsenal ajuda a explicar o que eu penso sobre o assunto. De certa forma, é o que acontece com Xavi, é o que acontece pela Espanha. Uma gratidão eterna pelos feitos do passado, que, se mal administrada, impede a evolução (não é à toa que o campeão do mundo geralmente vai mal na Copa seguinte). Pô, o elenco hispânico é um dos melhores do torneio. Se não tivesse alternativas, vá lá, tudo bem. Mas tem Fàbregas, Mata, Cazorla, Koke no banco de reservas (sem falar no De Gea). E ainda assim, repete o XI de quatro anos atrás. Aí não, né. O próprio Isco, que eu jurava que seria titular nessa Copa, por ser um jogador de habilidade, de beirada de campo, de características inexistentes no plantel, sequer foi convocado.
A falta de jogadores com essas características, aliás, faz com que a Espanha fique refém da faixa central. No 4-2-3-1 espanhol, sendo Silva e Iniesta, dois meias de ofício, os dois "pontas" do time, o jogo fica muito concentrado por dentro, sem homens abertos, afunilado, tiquetaqueado para lá e para cá, sem profundidade, sem atletas para chegar à linha de fundo ou encostar no nove. Em 2010 ainda tinha Pedro. (Ah, Navas se machucou, é verdade. Tem isso. Se bem que provavelmente ele - Isco idem - seria reserva mesmo, então não faz diferença.)
Enfim. Não quero pegar no pé de Xavi. Se há um responsável por essa equipe ter se tornado previsível, esse alguém é o treinador. Se há alguém que precisa entender que se escala pelo que se faz, e não pelo que se fez, esse alguém é o treinador. É ele quem precisa saber diferenciar a obra da pessoa, saber separar o trabalho atual, o rendimento atual, do currículo. E me parece que Del Bosque não conseguiu fazer isso. Ou ao menos não está conseguindo, já que restam dois jogos e a Espanha teoricamente está a duas vitórias das oitavas de final. Se repetir a base do XI do jogo de hoje contra a Holanda (ou melhor, do jogo de quatro anos atrás), todavia, é provável que a atual campeã seja eliminada na fase de grupos.
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