quinta-feira, novembro 27, 2014

Mais do que um burro com sorte

Nos dois jogos da final da Copa do Brasil o Atlético superou o Cruzeiro em todos os aspectos do esporte: técnico, tático, físico e psicológico. Em outras palavras, o Galo engoliu a Raposa. Tanto no Independência, na ida, quanto no Mineirão, ontem à noite. E se você pensar nos épicos 4 a 1 da volta contra o Corinthians nas quartas e no 4 a 1 da volta contra o Flamengo na semifinal, essa conquista se torna ainda maior, ainda mais valorizada.

Mas antes de qualquer coisa, preciso dizer algo.



Quando Levir chegou ao Atlético falando que para ele jogador era número, torci demais o nariz e critiquei-o com força. Logo pensei: ih, mais um treinador brasileiro ultrapassado engana cartola trouxa (tem vários por aí). Nesse caso específico, sobre jogador ser número, Levir se referia a Diego Tardelli (leia aqui). Logo pensei que com aquele tipo de discurso ele iria perder o vestiário e que não iria durar muito tempo no cargo. O tempo mostrou, no entanto, que minha primeira impressão estava mais do que equivocada.

Não que Levir seja um Guardiola, um Ancelotti ou um Mourinho da vida. Não é isso. Longe disso. Não é porque ele e sua equipe ganharam a Copa do Brasil de maneira heroica que ele se tornou o melhor treinador do país. Não é isso. Longe disso. Contudo seria duma burrice e duma má vontade sem tamanho não reconhecer seus méritos. Méritos que começaram a ficar mais evidentes a cada jogo do Galo e a cada entrevista dada por ele. A impressão, não a primeira, mas a mais recente, que fico, é a de que Levir voltou outro homem do Japão. Tanto no que diz respeito ao profissional quanto no que diz respeito ao ser humano. Por isso, eu que o critiquei tanto em sua chegada, hoje sou só elogios. Sem endeusá-lo, claro, porém só elogios. Parabéns a ele e, obviamente, aos atletas.

PS: Um Burro Com Sorte? é seu livro.

domingo, novembro 23, 2014

Os favoritos ao Brasileirão 2015

Campeão brasileiro merecida e indiscutivelmente em 2013 e 2014, o Cruzeiro deve entrar no Brasileirão 2015 como um dos grandes favoritos ao título, se não como o principal favorito. Por méritos próprios, sem dúvida alguma, mas também pela possível falta de concorrentes à altura. De novo.

Enquanto o Cruzeiro mantém o elenco e o treinador há duas temporadas, os outros insistem no erro que se repete desde sempre: a troca de treinador sem critérios técnicos (o Brasil é, de longe, o país que mais troca de treinadores; veja aqui). Ainda é cedo para falar, eu sei. Pode ser que alguns cruzeirenses chaves sejam vendidos (Lucas Silva, Ricardo Goulart, Éverton Ribeiro). No entanto os cartolas celestes têm dado show de uns tempos pra cá, e caso isso aconteça, a reposição já está engatilhada.

Em relação aos concorrentes, alguns deles devem trocar de treinador na virada do ano e consequentemente voltar à estaca zero. Mano deve sair do Corinthians, Abel pode sair do Inter, Cristóvão do Fluminense, e por aí vai. Felipão fica no Grêmio? Acho que sim. Muricy e Levir no São Paulo e no Atlético? Provavelmente. Talvez por isso esses sejam os times que podem bater de frente com o Cruzeiro na próxima temporada.

Entre os clubes com os melhores elencos (lembre-se: entre outras coisas, pontos corridos é elenco), Corinthians, Inter e Fluminense, caso troquem mesmo de técnico, dificilmente serão páreo para o Cruzeiro de Marcelo Oliveira, uma vez que quando se troca de treinador, o trabalho começa praticamente do zero. Em outras palavras, enquanto alguns dos ditos candidatos ao título irão começar a arrancar, a engatar a segunda ou a terceira marcha com seus novos comandantes, a Raposa em tese estará embalada, engatada na quinta há muito tempo.

Logo, embora ainda seja cedo para opinar, Atlético-MG e São Paulo (Grêmio nem tanto, na minha visão, por causa do elenco) devem ser os concorrentes diretos do Cruzeiro no Brasileirão 2015 (partindo do principio de que Marcelo, Levir e Muricy ficarão onde estão até o fim da próxima temporada). Já os outros (Corinthians, Internacional, Fluminense), com suas prováveis novas comissões técnicas, não deverão adquirir o entrosamento necessário para fazer frente ao atual bicampeão brasileiro (e ao Atlético e ao São Paulo). Resta-nos aguardar para ver se essa minha previsão se confirma ou não.

Os gols do maior artilheiro da Liga

Lionel Messi é o único gênio da bola em atividade, na minha opinião. O único. Há outros projetos de gênios por aí, mas hoje nada nem ninguém se aproxima do argentino nesse quesito.

Costumo dizer que seu futebol consegue superar seus números. Que a beleza de seu jogo consegue se destacar mais que seus impressionantes dados estatísticos (é o maior artilheiro do Espanhol, da Champions League, do clássico Barça-Madrid, e do FC Barcelona).

Em La Liga, com o hat-trick de ontem sobre o Sevilla, agora ele chegou a 253 gols em 289 jogos (confira a lista dos maiores goleadores). E confira todos eles no vídeo abaixo.



Ah, e lembre-se: Messi tem 27 anos.

segunda-feira, novembro 17, 2014

Muricy reconhece o mérito alheio

Minutos antes de a bola rolar para São Paulo vs Palmeiras, perguntado pelo repórter sobre a possibilidade de título, Muricy Ramalho disse que seu time deveria fazer a parte dele e destacou a competência e a continuidade do líder Cruzeiro. Reconheceu os méritos da equipe treinada por Marcelo Oliveira e sua iminente conquista.

Em outras palavras, Muricy falou que o Cruzeiro deve ser o campeão, justa e merecidamente, porque o time joga junto há mais tempo, está entrosado há mais tempo, vem atuando junto desde o ano passado, enquanto seu time se encaixou lá pela metade do campeonato. Perfeito o raciocínio, que se aplica não somente ao São Paulo, mas também aos outros ditos concorrentes diretos da Raposa.

Agora faltam quatro rodadas para o Brasileirão 2014 terminar. Porém lá atrás (vou puxar a brasa para a minha sardinha, desculpe-me), após a 14ª rodada, modestamente eu já apontava esse fator destacado por Muricy como decisivo no desenrolar da competição. Após a 14ª rodada, dia 11 de agosto, escrevi: "Com um pouquinho de visão crítica de campo e bola, pode-se perceber que Internacional e Corinthians (e Fluminense, e São Paulo, e assim por diante) estão longe de jogar uma bola que se aproxime da do Cruzeiro. Por quê? Porque, entre outros motivos, Marcelo Oliveira está há mais tempo no cargo." Leia o post completo aqui.

Um mês depois, quando o Tricolor do Morumbi empolgava e era o segundo colocado da vez, no post intitulado "Por que o São Paulo não deve chegar", insisti na dose, concluindo: "Em suma, enquanto o São Paulo está passando da terceira para a quarta marcha, o Cruzeiro está engatado na quinta há meses. E essa diferença não deve ser tirada nesses pontos corridos." Leia aqui o post completo.

Logo me parece que o discurso de Muricy, minutos antes de a bola rolar para o clássico contra o Palmeiras, na noite de ontem, não se trata de um discurso de perdedor ou de quem jogou a toalha. Trata-se de um discurso realista, de quem entende de futebol, de quem entende de pontos corridos, e de quem consegue reconhecer o mérito e o bom trabalho alheio, sem invejá-lo.

quarta-feira, novembro 12, 2014

terça-feira, novembro 04, 2014

Brasileiro, o eterno adolescente

Why do brazilian soccer players have one name?

Se você digitar "why do bra" no Google, uma das sugestões é esta: "why do brazilian soccer players have one name" (veja aqui). Sugestão essa que me deu o gancho para esse post, pois tenho uma tese sobre isso há algum tempo, e essa é uma boa oportunidade para externá-la. Acredito ter uma resposta sobre por que jogadores brasileiros tem apenas um nome. E ela, acredite, está escrita no inconsciente coletivo.

É comum vermos, nas transmissões dos jogos europeus, antes da bola rolar, quando aparecem as listas com os jogadores dos dois times, seus nomes completos. Ou ao menos dois nomes, geralmente o primeiro e o último. Por exemplo: Lionel MESSI, Zlatan IBRAHIMOVIC, Arjen ROBBEN, e por aí vai. Quando se trata de jogadores brasileiros, no entanto, nessa lista pré-jogo, aparece apenas um nome, sendo muitas vezes o apelido: KAKÁ, ROBINHO, RONALDINHO, etc.

Claro. Como em toda regra, há exceções. Salvo engano, no caso de Oscar, por exemplo, aparece Oscar EMBOABA. Salvo engano. Não tenho certeza. Ainda assim, o nome que ele leva na camisa é o primeiro nome, e não o sobrenome, como habitualmente ocorre na Europa e talvez no mundo todo (Messi é Messi na camisa, e não Lionel ou Leo). A pergunta é: por quê? Por que isso em regra acontece com os brasileiros e com os demais futebolistas do planeta não? Sobre os demais futebolistas do planeta não posso falar com tanta propriedade, contudo quanto aos brasileiros, permito-me opinar. E a resposta, como disse, está no inconsciente coletivo.

Isso acontece porque o Brasil é um país adolescente. Um país que sofre da Síndrome de Peter Pan. Um país onde ninguém assume a responsabilidade pelos seus atos e a culpa é sempre do outro (responsabilidade é coisa de adulto). Um país onde tudo é deixado para a última hora, à espera de uma salvação que vem de cima. Um país que não desmama e não consegue andar com as próprias pernas. Um país onde sempre se reclama e nunca se aceita a decisão que vem de cima. Sempre cabe recurso. Sempre há uma brecha jurídica. Sempre se dá um jeitinho. Enfim. São inúmeras as características. Uma das razões para essas características tão peculiares aos brasileiros existirem é o fato do Brasil ser um país novo, foi "descoberto" há 500 anos. Outra é a maneira como ele foi colonizado (recomendo Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre).

Esse comportamento adolescente e até certo ponto infantil é refletido no futebol mais do que você imagina (lembre-se, futebol é reflexo da sociedade). Isso fica evidente quando vemos que, no Brasil, o perfil do treinador que faz sucesso é o perfil do "paizão". Veja só, o treinador, esse representante da figura patriarcal, é tratado no Brasil orgulhosa e abertamente como "paizão". Quantas e quantas vezes você viu e ouviu o jogador dizer "ele é como um pai para mim"? Milhares, não? Pois é. Em outras palavras, a partir do momento em que o treinador é visto como o pai, o jogador é visto como o filho. Simples assim. É assumidamente o adolescente. Aí é preciso fazer concentração (na Europa não tem, né?) para castigar o filho adolescente, para evitar que ele saia com os amigos indesejáveis e beba, use drogas e etc.

São vários os exemplos. Infelizmente não tenho todos na ponta da língua, tampouco dos dedos. Mas eles estão aí, na nossa cara. E, além desse papo de "paizão" e da concentração (creche), essa questão do nome na camisa, do "why do brazilian soccer players have one name", é apenas outro exemplo.

O cara pode ter 30 anos de idade, e ainda leva na camisa o apelido de infância. Robinho, Ronaldinho, Juninho (repare no diminutivo). Kaká, Dedé, Vavá (repare nas sílabas repetidas, coisa de bebês que estão aprendendo a falar - gugu dada). Em relação aos jogadores que usam o primeiro nome e não os apelidos, talvez haja uma evolução, mas a diferença não é tão grande assim. Pois, enquanto os outros levam o sobrenome às costas, enquanto os outros levam o nome da família na camisa (Messi, Ibrahimovic, Robben), os brasileiros usam o primeiro nome, o nome do filho (Oscar, Adriano, Lucas). Ou seja, o eterno adolescente (forever young) que não atinge a maturidade para carregar o nome da família nas costas (é muito peso, né?).

Enfim. Sei que minha tese carece de detalhes e carece de aprofundamento, até porque não sou tão entendido no assunto assim (psicologia), embora entenda um pouco. E até porque é somente um curto post num blog, e não uma tese de mestrado ou doutorado. No entanto me parece evidente que essa característica infantil está enraizada nos brasileiros (não apenas nos jogadores e sim em toda a sociedade, diga-se de passagem). A escolha pelo primeiro nome na camisa ou pelo apelido pode ter lá justificativas racionais, contudo me parece nítido que isso faz parte do nosso inconsciente coletivo. E essa cultura ajuda a explicar, na minha visão, "why do brazilian soccer players have one name".