quarta-feira, novembro 15, 2017

O grande erro de Tite

Dono do Bordeaux, Malcom é hoje o segundo melhor ponta brasileiro na Europa. Destaque do atual campeão francês, Fabinho é peça chave no meio campo do Monaco. Fundamental no Watford, Richarlison é considerado uma das melhores contratações da última janela da Premier League. Regista do Napoli de Sarri, Jorginho tem características que nenhum outro pivote do elenco tem. E David Neres está voando com a camisa do Ajax.

Esses são alguns nomes que Tite podia ter testado nos amistosos contra Japão e Inglaterra, agora em novembro. Se não todos eles, pelo menos uns três (Jorginho, Fabinho e Malcom, eu diria). Jorginho já era. Entrou em campo pela Itália contra a Suécia - foi o melhor jogador da partida, diga-se - e não pode mais vestir a amarelinha. Quanto a Fabinho, abrir mão de um cara versátil como ele numa Copa - joga em alto nível na do Daniel Alves, na do Casemiro e na do Paulinho - me parece burrice. E Malcom, como eu disse, é hoje o segundo melhor ponta do Brasil na Europa, só fica atrás de Neymar.

Esse foi um erro de Tite. Fato. Perdeu a oportunidade de testar novos atletas. Aparentemente ele fechou o grupo antes da hora. Insistir em Taison, Giuliano, Diego Souza e etc e ignorar/desconsiderar nomes como os citados é algo no mínimo questionável. No entanto, esse não foi e nem é o maior erro do treinador da Seleção. O maior erro do treinador da Seleção, o grande erro de Tite, não passa pela convocação geral, e sim pelo XI inicial, pela formação do chamado time titular.

Particularmente Ederson seria meu goleiro, e não Alisson. E, obviamente, Thiago Silva seria meu zagueiro, e não Miranda, não só porque Thiago Silva é mais zagueiro do que Miranda, mas também para aproveitar o entrosamento de PSG com Marquinhos. Dito isso, o verdadeiro vacilo de Tite está mais para a frente, na meia esquerda. Sim, me refiro a uma tecla que venho batendo no Twitter há mais de um ano: Coutinho precisa jogar na do Renato Augusto.



Coutinho precisa jogar na do Renato Augusto por vários motivos. Um deles é que, com Coutinho na do Renato Augusto, o meio campo fica mais criativo, pois na fase ofensiva a contribuição de Coutinho é infinitamente maior que a de Renato Augusto. Coutinho é mais dinâmico, mais associativo, tem mais passe, mais drible, mais arremate, mais aceleração, mais visão, mais tudo. Além disso, com Coutinho na do Renato Augusto, Neymar não precisa cair tanto por dentro para armar as jogadas, como aconteceu nesta terça, contra a Inglaterra (veja aqui o mapa de passes do 11tegen11). Com Coutinho na do Renato Augusto, na meia esquerda do 4-3-3, o principal atacante do Brasil não fica sobrecarregado e pode se dedicar mais à conclusão das jogadas (aliás, Tite está repetindo um erro que Felipão cometeu em 2014: é tudo no Neymar).

Outro detalhe: não é apenas o rendimento coletivo da equipe que sobe com Coutinho na do Renato Augusto, mas também o rendimento individual do próprio Coutinho, que, destro, tem na finalização de fora da área a partir da esquerda um de seus pontos fortes, algo que praticamente desaparece quando ele é escalado a partir da direita. Como costumo dizer, há quem chame Coutinho a partir da beirada direita de "ponta construtor", de "meia aberto". Já eu chamo de desperdício.

"Coutinho não tem o poder de marcação de Renato Augusto", alguns dirão. Pode até ser. Mas no fim das contas, botando tudo na balança, há mais prós do que contras nessa troca. Muito mais. Sem falar que, com essa troca, abre-se uma vaga na ponta direita, que pode ser ocupada por Willian ou por um canhoto como Douglas Costa ou Malcom. E ainda tem outro detalhe: com Coutinho na do Renato Augusto uma eventual variação para o 4-2-3-1 fica mais viável e eficiente, e sem precisar recorrer ao banco de reservas.

Enfim. Você que me segue no Twitter sabe que eu canto essa pedra há bastante tempo. Chego até a me tornar, eu sei, repetitivo e chato, de tanto que insisto nisso. Mas quando a coisa é óbvia e está na nossa cara, é difícil ficar calado. De qualquer forma, a boa notícia é que ainda há tempo para Tite cair na realidade e se dar conta de que, para enfrentar seleções da elite europeia, por exemplo, é preciso mais. O Brasil pode ser campeão na Rússia com Renato Augusto interior-esquerdo e Coutinho a partir da direita? Pode. Claro. Copa é Copa. São sete jogos. Tiro curto. Mas com Coutinho na do Renato Augusto, a probabilidade disso acontecer cresce.