Dois em um. No 5 a 1 sobre a Irlanda, nesta terça-feira, o camisa 9 não foi apenas o camisa 9. Foi dois em um. Não foi apenas o centroavante do time, autor de dois gols típicos de centroavante, no primeiro tempo. Foi também o cara responsável pelo trabalho sujo pelo lado esquerdo do campo. Sem a bola, para liberar Cristiano Ronaldo, em regra era ele quem fechava o flanco e eventualmente acompanhava o lateral-direito adversário.
Com a bola, claro, Hugo Almeida trabalhou na referência do 4-3-3 lusitano, enquanto Cristiano Ronaldo circulou por uma extensa faixa, geralmente priorizando a origem das jogadas pelo lado esquerdo, onde notoriamente rende mais (espaço também ocupado por Coentrão, vide o lance do gol contra e o gol do próprio lateral, após passe de Nani, no segundo tempo); Varela preencheu o lado direito. Sem a bola, no entanto, talvez até por uma questão física (CR7 estava voltando agora), ou por uma mera visão tática mesmo, Hugo Almeida cumpriu o papel chato de fechar a beirada do campo.
Taticamente falando, não sei até que ponto isso é positivo. Na verdade não sei até que ponto esse comportamento ocorrerá na Copa. De repente o que se viu hoje foi exceção, em função de Ronaldo estar voltando dum período inativo. Mas se na Copa a regra for essa, confesso que não sei até que ponto vai a eficiência de Hugo Almeida cumprindo essa função, de marcar por zona lá atrás (quando a marcação é por pressão, lá em cima, aí sim Hugo Almeida é o último homem, ou o primeiro a apertar a linha defensiva adversária, se preferir). A vantagem de tê-lo marcando lá atrás, pelo lado esquerdo, claro, é ter Cristiano Ronaldo descansado lá na frente, à espera da bola para puxar o contra golpe, seja conduzindo-a, ou via lançamento.
O cenário da estreia, por exemplo, pode ter a Alemanha trabalhando a posse da bola no campo ofensivo, e Portugal fechado lá atrás, com Hugo Almeida vigiando Lahm, e CR7 mais adiantado, preservando as pernas e os pulmões, para fazer a transição rápida e pegar os, digamos, lentos zagueiros alemães com muito espaço à frente. Outra opção é o bom e velho esquema com duas linhas de quatro, com Cristiano Ronaldo e Hugo Almeida no ataque, e Raul Meireles dobrando a marcação do lado esquerdo (foi assim boa parte da segunda etapa contra a Irlanda). Nessa situação, porém, vale ressaltar a exposição do miolo da meia cancha, com dois jogadores apenas (William Carvalho/Miguel Veloso e João Moutinho). No confronto contra a Alemanha, por exemplo, eles ficariam em desvantagem numérica (e técnica) diante de Khedira/Kroos, Schweinsteiger e Özil.
Seja como for, a boa notícia é que o Bola de Ouro jogou uns 60 minutos nesta terça, e aparentemente terá condições de jogar os 90 contra a Alemanha, dia 16, às 13h, na Fonte Nova, em Salvador. Se ainda não está nem estará 100% fisicamente, o desempenho no amistoso com os irlandeses pelo menos indica que Cristiano Ronaldo deve atuar o jogo todo (sempre lembrando que sua bola parada pode decidir). Caso eu esteja enganado e ele não consiga jogar os 90 minutos, entretanto, Nani mostrou que pode substituí-lo no segundo tempo, à esquerda, e botar fogo na partida.
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