Após Mano ter sido apunhalado pelas costas pelo cara que manda na CBF, em sua primeira entrevista coletiva no comando da Seleção, em novembro de 2012, Felipão assumiu a responsabilidade: "Nós temos obrigação sim de ganhar o título em casa." Na verdade, dividiu-a com os jogadores, uma vez que treinador não entra em campo.
Já em março desse ano, depois da vitoriosa porém não inquestionável campanha feita na Copa das Confederações, Parreira disse: "Nós somos, entre aspas, o país do futebol que perdeu a primeira Copa em casa e tem a obrigação de ganhar a segunda em casa. Isso nos dá responsabilidade muito grande, mas não está nos atingindo."
Em maio, dois meses depois, às vésperas da estreia da Copa do Mundo, o auxiliar técnico do Brasil apareceu com essa pérola: "O que aprendi em seis ou sete Copas? Que ganhar fora do campo é o mais importante, e não é fácil. Envolve parte operacional, logística, planejamento, relacionamento com torcedores, imprensa, ambiente de trabalho. E isso nós já conseguimos, portanto já estamos com uma mão na taça."
Agora fica mais fácil entender por que os atletas brasileiros estão à flor da pele, não?
Quando você para para analisar o discurso dos comandantes dessa árdua missão, você compreende por que boa parte dos jogadores da Seleção está emocionalmente um caco. Não quero entrar aqui na discussão sobre se o choro em si, antes, durante e depois dos jogos, é benéfico, maléfico ou insignificante (na minha visão é maléfico, mas como disse, não quero entrar nessa discussão). No entanto está mais do que evidente que o elenco não está sabendo lidar com a pressão, não? E se o elenco não está sabendo lidar com a pressão, não está muito em função do discurso de seus comandantes.
"Libertadores é obrigação!" Quantas vezes você já viu essa faixa estendida por torcedores de clubes brasileiros? Muitas, independente do clube. Vez ou outra alguns torcedores, que têm todo o direito de expressarem suas opiniões e seus pontos de vista, decretam que os jogadores do time para o qual eles torcem têm "obrigação" de vencer determinada competição. Ou seja, a partir do momento em que você acredita que seu time tem obrigação de vencer tal competição, você automaticamente desrespeita e menospreza todos os outros participantes dessa competição. Mas tudo bem. Da torcida não espero racionalidade e inteligência emocional. Já da comissão técnica de uma equipe que disputa uma Copa do Mundo, espero.
Espero, por sinal, que Felipão e Parreira tenham lido o livro do Bernardinho - Transformando Suor em Ouro. (Na verdade não devem ter lido, senão não teriam feito o que fizeram nem o que estão fazendo.) Uma das frases desse livro que mais me marcou, entre tantas outras, fala sobre isso: você não tem a obrigação de ser campeão; você tem a obrigação de fazer o seu melhor. É mais ou menos por aí. Ninguém tem obrigação de ganhar nada, mas todos têm obrigação de dar o seu máximo. A preparação é o que interessa, o resto é consequência. Ao aceitar o discurso "temos obrigação de vencer a Copa em casa", contudo, o técnico da Seleção aumenta ainda mais a pressão sobre os jogadores, que já era enorme. Resultado: a maioria deles está emocionalmente na TPM, sensível, imprevisível, sem saber lidar com a situação.
Veja bem, não sou daqueles que acha que o lado emocional é o maior responsável pelo desempenho ruim do Brasil na Copa até aqui. Inclusive penso que só se discute esse assunto - de maneira superficial, o que é pior - e se ignora, talvez por falta de capacidade, outros "xises" da questão, como a parte tática, por exemplo. Aliás, quando Carlos Alberto Parreira opina que "ganhar fora do campo é o mais importante", ele minimiza o campo e bola e revela a fragilidade tática, o baixo entendimento, da comissão técnica do Brasil nesse quesito crucial. (Esse post, entretanto, tem como foco o lado emocional da coisa, e não o tático, que já foi por mim abordado aqui e aqui.)
Enfim. Se psicologicamente alguns jogadores estão na capa da gaita, ou ao menos muito instáveis, mais frágeis, pode ter certeza de que a aceitação do discurso "temos obrigação de vencer a Copa em casa" por parte de quem comanda, e o posicionamento na linha "Copa se ganha fora do campo, já estamos com uma mão na taça", têm um peso gigante nisso. Tanto Felipão quanto Parreira têm sim culpa pelo turbulento momento que atravessa a seleção brasileira, não necessariamente pelo que estão fazendo agora, mas em especial pelo que fizeram antes, pelas posições que tomaram. Em outras palavras, eles não foram capazes de blindar o grupo. Muito pelo contrário.
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