Quando digo que o futebol brasileiro é uma grande briga de foice no escuro, me refiro, entre outras coisas, ao nível dos nossos treinadores, e ao tempo que eles geralmente ficam no mesmo cargo. No que diz respeito ao nível, baseado nos padrões do jogo jogado na Europa, dá para dizer que é baixo (nem me refiro ao 7 a 1). E dá para dizer também que é semelhante. De uma forma geral, é muito semelhante. Em regra é o perfil do paizão que apela para o lado motivacional, entende pouco de tática e prioriza o talento individual (o craque resolve). No fim das contas, nenhum se destaca. E não à toa, nenhum tem mercado na elite do futebol mundial (Europa). Logo, o nivelamento é por baixo. Já no que diz respeito ao tempo que eles geralmente ficam no cargo, trata-se de um agravante, e este dado levantado por mim nesta quarta-feira lança luz sobre o problema. Confira aqui.
Hoje, às vésperas da terceira rodada do Brasileirão, dois clubes grandes estão sem treinador: Grêmio e Fluminense (Felipão saiu do Grêmio antes de completar dez meses no cargo, e Drubscky foi demitido do Fluminense com apenas dois meses de trabalho). Dois treinadores em duas rodadas. Outros dez clubes que disputam a Série A contrataram seus treinadores neste ano de 2015, incluindo interinos que foram “efetivados” (Milton Cruz no São Paulo e Marcelo Fernandes no Santos, por exemplo). Outro ponto que desperta a atenção - negativamente, claro - é que somente quatro (de vinte) estão na mesma equipe há mais de um ano: Levir Culpi no Atlético (1 ano e 1 mês), Eduardo Baptista no Sport (1 ano e 3 meses), Hemerson Maria no Joinville (1 ano e 4 meses) e Marcelo Oliveira no Cruzeiro (2 anos e 4 meses). O que isso quer dizer? Muita coisa.
Quer dizer, entre outras coisas, que os times de uma maneira geral não têm tempo para evoluir (sem tempo não há evolução; pergunte a Darwin). Quer dizer que esse enraizado e maldito troca-troca de técnicos (na maioria das vezes, troca-se seis por meia dúzia) impede que os times sejam construídos, impede que os times ganhem forma, que ganhem uma cara, um jeito de jogar, uma filosofia de jogo. Quer dizer que, entra ano e sai ano, o torneio base da temporada (pontos corridos) se desenrola com a maioria (mais da metade) de seus participantes em formação. E se nós partirmos do princípio de que uma equipe de futebol só começa a tomar corpo lá pelo sétimo, oitavo, nono mês de trabalho, chegamos à triste conclusão de que no Brasileirão não existem equipes de futebol propriamente ditas, pois a maioria delas (mais da metade) é comandada por treinadores que chegaram há menos de sete, oito, nove meses. Em outras palavras, esse troca-troca derruba ainda mais o nível do espetáculo, que já é baixo. Ou seja, o que é ruim, fica pior.
PS: Por que nossos dirigentes demitem treinadores como demitem? Leia aqui.
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