quinta-feira, maio 28, 2015

Onde o Cruzeiro errou na Libertadores

Quando um time argentino elimina um brasileiro em gramados brasileiros na fase de mata-mata, nós rasgamos elogios ao tradicional adversário: "Como eles jogam bem fora de casa!" E morremos de inveja. Admita. De fato, jogam mesmo. Mas por quê? Por que não é raro? Por que nos acostumamos a ver time argentino eliminar brasileiro no Brasil? E por que muitas vezes o visitante coloca o mandante na roda?



Isso acontece, em primeiro lugar, porque eles são organizados no quesito tático do esporte (onde mais estamos atrasados, diga-se) e porque contam com uma estratégia de jogo bem definida (além de contar com a qualidade técnica, claro). Sabem o que devem fazer na fase defensiva e o que devem fazer na fase ofensiva (em especial fora de cara, onde há mais espaços para atacar e tudo fica menos difícil). E por saberem o que devem fazer em campo, com a bola e sem a bola, tornam-se mais confiantes (com confiança tudo fica mais fácil). Por acreditarem nas ideias do treinador, as executam com mais tranquilidade (num time bem treinado, claro). Não é à toa que uma das boas virtudes dessas equipes é a frieza. Não se comportam de maneira tão pilhada, como ocorre com as brasileiras, por exemplo. "São extremamente frios fora de casa!" De fato, são mesmo. E o trabalho do treinador tem tudo a ver com isso.

Aí entramos no aspecto emocional no jogo. Ontem à noite, em Belo Horizonte, na partida de volta das quartas de final da Libertadores (1 a 0 para o Cruzeiro no Monumental de Nuñez), ficou evidente a discrepância mental entre as duas equipes. Mental não só no sentido de controle dos nervos (esse papo de que argentino catimba demais, aliás, é puro mimimi de brasileiro), mas também no sentido da racionalidade na hora de tomar as decisões (ou melhor, na fração de segundo). E de onde vem essa frieza toda? Eles também não têm "sangue latino" como nós, uai? Pois então. Tudo está entrelaçado. Tudo é uma soma de fatores. E como eu disse antes, o trabalho do treinador (tático) tem tudo a ver com isso, porque, uma vez encaixado num time bem treinado, num time com uma proposta de jogo bem clara, com uma filosofia de jogo bem clara, onde o coletivo funciona minimamente bem, o jogador se sente mais à vontade. E naturalmente rende mais.

No caso da eliminação do Cruzeiro (3 a 0 para o River Plate no Mineirão), isso se aplica. Pelo seguinte: o time de Marcelo Oliveira não mostrou variedade no repertório ofensivo. Desde cedo, com a bola, se resumiu a abrir o jogo com a finalidade de cruzar na área. Mesmo atrás no placar, um desespero, um apelo à jogada aérea muito cedo, ainda na metade do primeiro tempo. Às vezes dá certo. Mas na maioria das vezes, não. Como não deu (e acabou levando três, o que escancara a falta de qualidade também na fase defensiva – algo que sobra, por exemplo, ao time de Aguirre). E digo também porque, na ofensiva, com a bola, faltou qualidade para trabalhar a posse. Porque fora de casa é lindo! Com espaços abundantes no campo ofensivo fica "fácil" trabalhar a posse. Verticaliza-se em velocidade (contra ataque) e deu pra bola. Já em casa, o buraco é mais embaixo. Uma vez que o adversário se fecha lá atrás, os espaços são reduzidos. E é aí que a cobra fuma. Pois quando é preciso trocar passes e girar o jogo com paciência e precisão, diante de um time que se defende bem, sob pressão da própria torcida que muitas vezes não apoia na hora h, ainda por cima, muitos times se perdem. Como aconteceu ontem com o Cruzeiro.

No momento, no entanto, não podemos sequer cogitar a queda de Marcelo Oliveira. Não é isso. É preciso compreender que vários titulares da temporada passada saíram, novos entraram, e que não se constrói um time da noite para o dia (no futebol quatro meses significam da noite para o dia). Na contramão, por exemplo, está o próprio River: praticamente não trocou nenhuma peça da temporada passada. Já o Cruzeiro "perdeu" quatro titulares (Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Lucas Silva e Egídio). Só isso. Portanto, é preciso controlar o imediatismo que corre nas nossas veias e ter calma na hora de decretar o fim de Marcelo no Cruzeiro. Não estou dizendo para ele ficar para sempre na Toca da Raposa. Não é isso. Mas se for para trocar de treinador, que seja após a 38ª rodada do Brasileirão, okay?

Ah, e tem mais um detalhe: se a Copa Libertadores fosse disputada em dois semestres, como ocorre por exemplo com a Champions League, o Cruzeiro, cheio de novos atletas (meio time), teria mais tempo (o dobro) para encaixar e entrar na fase de mata-mata mais maduro. Com a Libertadores disputada em um semestre apenas, todavia, vários times, cheios de novos atletas, entram no mata-mata ainda em formação. Aí acabam morrendo. Prematuramente. Como aconteceu ontem com o Cruzeiro.

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