quarta-feira, março 11, 2015

Futebol brasileiro, um deserto de ideias

Troca é progresso. Autossuficiência é regresso. A ausência da troca leva à estagnação. A presença dela leva à inovação e eleva o nível. Isso se aplica à economia, à tecnologia e a vários outros aspectos da sociedade. Inclusive ao futebol (o futebol reflete a sociedade). Por essas e outras, o futebol brasileiro encontra-se onde se encontra. O terreno que um dia foi muito fértil, hoje é um deserto. Graças ao isolamento intelectual das pessoas que trabalham nele e com ele, o futebol brasileiro se encontra fora do circuito do conhecimento, imerso na própria ignorância.

O que mais me incomoda nessa história toda é que as ferramentas estão aí. Vivemos na era mais globalizada da história da humanidade. Nunca antes na história da humanidade (últimos 200 mil anos, digamos) foi tão fácil realizar a troca. Não apenas a troca de bens, produtos e serviços, mas principalmente a troca de informação, a troca de conhecimento, a troca de ideias. Em especial, graças à Internet (sua linda!). E é justamente nessa gloriosa fase da história da humanidade - a mais gloriosa de todas até aqui - que o futebol brasileiro se isola. Justamente na época em que o conhecimento tem tudo para fluir e triunfar, a ignorância impera e prevalece. Quando na verdade deveria se globalizar, o futebol brasileiro se isola (no campo e bola e no campo das ideias, já que o primeiro é consequência do segundo).

Não duvido que a Major League Soccer, por exemplo, ultrapasse o Brasileirão logo, logo. Bom. No que diz respeito à média de público, já ultrapassou (a liga chinesa também). Mas me refiro ao campo e bola mesmo, dentro das quatro linhas. Deve ultrapassar logo, logo. Veja bem: me refiro à MLS como um todo e não aos jogadores americanos em si. São coisas diferentes. A cada dia que passa a MLS deve importar mais material humano de qualidade, não só para o campo e bola, mas também para o campo das ideias. Enquanto no Brasil ainda se queima treinadores estrangeiros (por uma série de motivos), nos Estados Unidos (e na China), penso eu, eles serão bem-vindos. Ou melhor, serão requisitados, para acelerar a elevação do nível. E nessa esteira devem vir os treinadores “locais”. Não tenho dúvida de que eles, os americanos e os chineses, para não citar outros exemplos, estão antenados ao mundo global em que vivemos, ao contrário do treinador padrão brasileiro, que vive ilhado no campo das ideias. E o reflexo disso nós vemos no campo e na bola.

Um comentário:

Meia disse...

pelo menos na qualidade da narração a MJL já passou faz tempo o brasileirão. Lá tem descrição tática dos times, movimentos e etc. enquanto no Brasil nossos narradores falam que 4-1-4-1 é linha de ônibus...